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“A adopção digital é o petróleo do século XXI das organizações” - Nuno Veiga, PCE da Pay4All

Cláudio Gomes
14/8/2024
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Foto:
Isidoro Suka

Ao mesmo tempo que é um factores determinantes para acelerar o desenvolvimento económico, a adopção tecnológica e digital acarreta riscos, alerta Nuno Veiga.

Com um percurso de mais de 25 anos de experiência, o actual presidente da Comissão Executiva (PCE) da Pay4All, Nuno Veiga, considera que a aceleração dos negócios em Angola passa necessariamente pela adopção digital, embora admita que, para o crescimento exponencial esperado, seja necessidade democratizar o acesso à Internet, fomentar a inclusão financeira e digital. Na entrevista abaixo, defende o uso ético e responsável destas soluções.

Olhando para os riscos que se apresentam, não obstante as visíveis vantagens, que cuidados se deve ter com o avanço do digital?

Continuo a acreditar que a adopção da tecnologia e das mais recentes evoluções traz mais vantagens do que os riscos que se apresentam. O grande dilema é o que o homem faz com esses avanços e com o uso que dá à tecnologia, que está cada vez mais acessível. No geral, penso que é necessário perceber que não devemos fazer o uso pouco ético, sem respeitar a reserva de privacidade de outrem ou até a propriedade da informação. Não devemos tirar proveito da tecnologia em prol da concorrência desmedida, sem regras e sem princípios. Devemos sempre ter em conta que existem riscos de segurança ao disponibilizarmos a informação para fora do nosso controlo, seja em redes sociais, na Internet ou até por canais mais restritos como email. Em resumo, recomendo a ética no sentido de seguir bons princípios e boas práticas, bem como ter cuidado ao aceder e disponibilizar informações de forma segura, controlada e respeitar a privacidade de terceiros. 

Porém, como é que a adopção digital pode impulsionar o sucesso das organizações?

A adopção digital é definitivamente o petróleo do século XXI das organizações. Hoje, o caminho para acelerarmos os nossos negócios passa impreterivelmente pela adopção tecnológica, seja por via de soluções digitais e por meios de soluções de comunicação e promoção de serviços e produtos. Em 2020, a pandemia da Covid-19 teve um impacto gigante para todo o mundo, onde empresas grandes ou pequenas foram encerradas e outras decretaram falência. Em Angola, porém, tivemos pequenos negócios que sobreviveram e até cresceram de forma exponencial com o recurso à venda por e-commerce e às redes sociais, com entregas de produtos ao domicílio. Um conjunto de ideias e iniciativas que revolucionaram o mercado nacional, que, nos primeiros meses, pareciam estar fadados ao desaparecimento e à falência, mas, hoje, o número de utilizadores da Internet e de soluções digitais quase duplicou.

Qual é a experiência que têm em relação à adopção digital? 

Na Pay4all, por exemplo, temos tido acesso a recursos que nos têm permitido desenvolver novas áreas de negócios, entender processos e fenómenos empresariais através da inteligência artificial, que, em outras circunstâncias, teríamos que contratar consultoria externa, que, além de cara, retiraria a possibilidade do nosso capital humano aprender e crescer em termos de conhecimento. Trabalhamos para usar a inteligência artificial em benefício do melhoramento do comportamento dos clientes, análise de dados para transformá-los em informação relevante. A adopção digital permite acelerar processos, diminuir custos, aumentar conhecimento, melhorar a tomada de decisão, criar o engajamento interno nas instituições e externo com os clientes e parceiros.

O que falta fazer para se impulsionar a digitalização em Angola?

Primeiro, temos de aumentar de forma exponencial o acesso à Internet, de Cabinda ao Cunene. Temos de democratizar o acesso e disponibilidade de serviços e produtos e por essa via aumentar os provedores de Internet. Temos também de aumentar a quantidade e qualidade de formação desde o ensino base ao técnico, introduzir temas do ecossistema digital nos currículos escolares para que as pessoas tenham consciência desde a tenra idade sobre as oportunidades que podem ser exploradas a partir da Internet, mas também sobre os riscos que podem advir com uso descuidado destas ferramentas. Temos, sem dúvida, de ter uma estratégia digital para o País, em que o Executivo não seja operador, mas o promotor e supervisor da mesma. Por último, que mais serviços públicos sejam incluídos no processo digital, para fomentar o interesse de todos neste recurso infindável que é o ecossistema digital, estimulando mais investimentos e a inclusão de mais utentes, o que iria proporcionar o crescimento exponencial do ecossistema.

Quais são os constrangimentos que impedem a aceleração digital no País?

A pouca cobertura de Internet e os custos altos associados ao acesso a este recurso são um grande constrangimento. Não nos podemos esquecer que a falta de/ou menor literacia da população, também tem um alto impacto na aceleração digital do País. Há falta de incentivos às empresas que estão a trabalhar na inclusão financeira e digital da população, existe alguma exigência regulamentar muito acima das condições que são possíveis operacionalizar em Angola. A população tem dificuldades de ter acesso a um direito fundamental como é o caso do bilhete de identidade (BI), entre outras condições e requisitos exigidos para se incluir a população no meio digital e de pagamentos. Por outro lado, os serviços estatais que nos deveriam apoiar ainda estão num processo digital muito mais atrasado do que seria de esperar face às exigências regulamentares.

Qual acredita ser o melhor mecanismo para uma literacia digital mais eficaz? 

Acredito que o melhor mecanismo seja a facilitação do acesso de Internet em todo o País, ou prioritariamente em todas as escolas [desde as do ensino primário ao superior), e que [os alunos e estudantes] possam aceder aos recursos disponíveis na web. Por outro lado, se o Estado migrasse mais serviços para o ambiente digital, impulsionaria exponencialmente este processo, aumentaria o volume de dinheiro transacionado no ecossistema e com isso maior interesse de investidores, empreendedores, consumidores e utilizadores dos serviços digitais.

E como é que a PAY4ALL tem contribuído para melhorar esta literacia?

Trabalhamos prioritariamente com parcerias em todas as componentes do nosso negócio e ramos da indústria, com preferência para as parcerias locais. Temos trabalhado com as Organizações Não Governamentais (ONG’s) e outras que conhecem o público que queremos atingir e, desta forma, aumentar a literacia digital e financeira. Trabalhamos também com estudantes universitários em vários projectos visando não só criar valor acrescentado nos seus currículos, mas também torná-los mensageiros junto das famílias e comunidades. Colaboramos, igualmente, com entidades como Banco Mundial e UNICEF em projectos que permitem não só terem acesso aos fundos dos programas destas instituições, mas também promover mais conhecimento sobre as soluções e serviços digitais e financeiros. Fomentamos parcerias com fintechs locais e outras startups para que um número maior de pequenas empresas possam intervir na adopção tecnológica e digital. E, por fim, incentivamos alterações regulamentares e promovemos um ecossistema que permita que mais pessoas tenham acesso ao conhecimento sobre a adopção digital e sobre a inclusão digital e financeira. 

BI

Nuno Veiga é um aficionado pelas novas tecnologias, com ‘trilhos’ na banca comercial angolana onde durante mais de 26 anos de experiência contribuiu para a adopção tecnológica e digital no sector financeiro, estando entre os precursores de soluções como a banca digital.

Leia mais na edição de Setembro da revista E&M.