Que análise faz do mercado segurador nacional e internacional?
Em anos recentes, o mercado segurador, tanto em Angola quanto internacionalmente, passou por transformações profundas, além da disrupção causada pela pandemia. A economia nacional, marcada pela volatilidade do petróleo e pela desvalorização do Kwanza, afectou o poder de compra, influenciando a procura de seguros, especialmente os chamados produtos massificados. Contudo, o sector manteve um crescimento regular, com destaque para o ramo Vida, que aumentou 92% em 2023, impulsionado pela digitalização e o bancassurance. Globalmente, o sector segurador adoptou tecnologias como inteligência artificial e o tratamento massificado de dados informáticos, impulsionando a personalização de produtos e a cibersegurança. Seguros "verdes" e produtos baseados nos hábitos e comportamentos dos clientes também ganharam bastante relevância. Além disso, a pandemia do COVID-19 acelerou a digitalização dos seguros de saúde e a telemedicina, enquanto as mudanças regulatórias aumentaram a transparência e a conformidade.
Que passos ainda precisam ser dados no sector?
Para o sector progredir, são necessárias acções internas e externas. Destaca-se a necessidade de iniciativas de incremento da literacia financeira voltadas para os seguros, assim como a diversificação dos canais de distribuição, a expansão do bancassurance e o desenvolvimento da digitalização de produtos, incluindo o uso de inteligência artificial para melhorar a produtividade e a experiência do cliente, que tende a operar num ambiente de self-service, ou seja, de maior autonomia na contratação e gestão de produtos de seguro. Por outro lado, o desenvolvimento de novos micro-seguros também terá um papel fundamental no desenvolvimento do mercado. Externamente, seria importante implementar uma fiscalização mais rigorosa sobre o cumprimento dos seguros obrigatórios, como o seguro automóvel e de acidentes de trabalho, que são fundamentais para a expansão do sector.
Além disso, a criação de uma resseguradora nacional, que também é apontado como um dos passos fundamentais a ser dado, terá impactos significativos no mercado segurador, com repercussões positivas em várias áreas, uma vez que fortaleceria a capacidade interna do País para gerir riscos, reduzindo a dependência de resseguradoras estrangeiras e mantendo mais recursos financeiros no País.
Em relação aos resultados da empresa, em 2022, o Resultado Líquido foi inferior ao total em 2023. O que esteve na base deste decréscimo?
É importante destacar que este decréscimo nos resultados líquidos de 2022 para 2023 foi apenas de 1%, indicando uma tendência de estabilidade nos resultados da ENSA. Apesar de 2023 ter sido um ano mais desafiador que 2022, a ENSA conseguiu preservar a estabilidade dos seus resultados líquidos, consolidando a sua posição no mercado e demonstrando solidez e resiliência. Este decréscimo esteve relacionado com custos associados a sinistros, particularmente no ramo da Doença, Acidentes de Trabalho e Petroquímica. Estes ramos representaram uma parcela significativa nas variações das provisões para sinistros, o que elevou o rácio de sinistralidade para 55% em 2023. Outros factores relevantes foram o crescimento mais moderado dos prémios de seguro directo, comparado com anos anteriores, e a natural variação do valor de unidades de participação em organismos de investimento colectivo em alinhamento com o comportamento generalizado do mercado.
Quais os números do início de 2024? Qual é a expectativa para o ano em curso? Vão lançar produtos novos, quais? Qual é o investimento programado para estes desafios?
Em 2024, além da nossa actividade regular, estamos focados em apoiar o accionista no processo da oferta pública inicial de 30% do nosso capital social em estreita colaboração com o IGAPE, conforme o programa de privatizações. Mais detalhes sobre nosso desempenho serão divulgados oportunamente, estando a informação auditada mais actualizada, assim como as perspectivas e tendências de negócios e estratégia da ENSA disponíveis no Prospecto da Oferta.
A empresa tem distribuído dividendos?
Após o apuramento das contas de 2023 e a sua aprovação pela Assembleia Geral, foi efectuada a distribuição de dividendos correspondentes a 40% dos resultados líquidos da ENSA em linha com a sua política de distribuição de dividendos.
A ENSA manteve em 26% a sua quota de mercado em 2023. Que investimentos têm sido feitos para cimentar a liderança do mercado?
A ENSA tem investido significativamente para consolidar a sua liderança no mercado de seguros em Angola. Investimos na digitalização e inovação dos nossos produtos, desenvolvendo soluções digitais como simuladores online, apps e quiosques de self-service, facilitando a subscrição de apólices e melhorando o tempo de resposta ao cliente. Além disso, estamos comprometidos em garantir que o serviço ao cliente em caso de sinistro seja dinâmico e eficiente, assegurando que as indemnizações devidas sejam processadas com celeridade e sem entraves administrativos.
Em que áreas de seguros ou serviços dominam o mercado?
A ENSA lidera o mercado angolano em vários ramos de seguros, com destaque nas áreas de Doença, Acidentes de Trabalho e Outros Danos em Coisas. No ramo de Doença, a ENSA detém uma quota de mais de um terço do mercado. No ramo de Acidentes de Trabalho, mantém uma posição dominante com mais 35% de quota. Além desses ramos, a ENSA também tem uma presença forte no ramo Automóvel, com uma quota de aproximadamente 17%, e continua a expandir as suas operações e a diversificar os seus produtos, especialmente no ramo Vida. Para além destes aspectos, deverá notar-se que a ENSA é a maior gestora de fundos de pensões de Angola, com uma posição muito expressiva no respectivo mercado.
De que forma a empresa contribui para o desenvolvimento do sector?
A ENSA contribui significativamente para o desenvolvimento do sector de seguros em Angola por via do seu posicionamento histórico (foi a primeira seguradora pós-independência) e por meio de várias iniciativas estratégicas. A ENSA tem sido pioneira na disponibilização de produtos e serviços ao mercado, por exemplo, criou em 2003 o primeiro seguro de saúde e, mais tarde, foi a primeira seguradora com a solução de pagamento de forma fraccionada por via do serviço de débito directo. Lançou vários novos produtos de seguros e voltou a inovar em 2022 com o micro-seguro de Saúde, uma mais-valia para as pessoas com menor disponibilidade para comportar o prémio habitual.
Que investimentos sociais a empresa tem realizado?
A ENSA tem realizado diversos investimentos sociais, com destaque para o prémio ENSArte. Esta iniciativa promove a arte e a cultura em Angola, oferecendo uma plataforma para artistas locais exibirem as suas obras e ganharem visibilidade. Através do ENSArte, a ENSA tem reforçado o seu compromisso com a valorização da cultura angolana e o apoio a talentos emergentes no País durante várias décadas. Além disso, a empresa promove campanhas de sensibilização para a saúde, como o Outubro Rosa e o Novembro Azul, voltadas para a conscientização sobre as doenças cancerígenas, seu tratamento e prevenção. Essas campanhas demonstram o compromisso da ENSA com o bem-estar social, envolvendo-se em actividades que beneficiam directamente a comunidade. Somam-se várias iniciativas ao nível do desporto nacional, por meio de apoios e patrocínios.
E da oferta pública em bolsa, o que tem a dizer? Que palavra deixaria aos potenciais investidores?
Como já referi, a ENSA encontra-se inserida no programa de privatizações do Executivo angolano que se encontra em curso. Ao abrigo dessa iniciativa, foi aprovada a oferta pública inicial em Bolsa de 30% do capital social da ENSA, ficando 2% reservados à venda aos seus trabalhadores. Trata-se de uma operação já amplamente divulgada ao mercado, podendo ser encontrados os respectivos detalhes no Prospecto disponível, por exemplo, no website da ENSA. As acções serão alienadas a um preço unitário no intervalo entre o valor mínimo de Kz 6.499,80 e o valor máximo de Kz 12.499,80, sendo a definição do preço final contingente de vários factores próprios do mercado regulamentado.