“Querem trazer militares para a assembleia que nem sequer são sócios do clube”, atirou o general Carlos Hendrick, duas semanas antes de anunciar a sua retirada das eleições gerais no 1.º de Agosto, marcadas para o dia 30 deste mês.
O então líder da Lista C desabafava, na ocasião, à Rádio D’Agosto, contra um suposto tratamento desigual de que a sua direcção foi alvo durante a assembleia extraordinária do dia 16 de Março, presidida pelo Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas (FAA), o general de aviação Altino dos Santos.
“Querer-se levar para a assembleia indivíduos que não sejam sócios do clube, isso, de facto, é uma grande violação dos Estatutos e violação, portanto, da nossa realidade (...) Isso é impossível. Não pode!”, desabafou o actual presidente da agremiação.
Na ocasião, Carlos Hendrick reiterou que, na assembleia que teve lugar no Pavilhão Paulo Bunze, infra-estrutura que integra o vasto património imobiliário do clube, devia estar “apenas a massa votante” e evitar-se “situação de parcialidade”.
Foi mais longe nas suas contundentes declarações sobre supostas irregularidades ocorridas no encontro: “Nós vamos à assembleia e a Mesa da Assembleia quer julgar a direcção do clube, é mesa da assembleia da Lista B. Como é que pode ser isso?!”.
E reforçou nas denúncias feitas em plena rádio da formação militar: “Havia uma certa intenção de se atirarem contra a direcção do 1.º de Agosto. Isso não pode ser, servir de jogador e árbitro (...) Não podem manipular os votos (...) Esta situação existiu na última assembleia”.
Na referida assembleia extraordinária, cerca de dois mil dos três mil sócios presentes orientaram que o documento concebido pela direcção de Carlos Hendrick regressasse para se proceder à devida conformação das contas, antes mesmo de avançar para o crivo do Conselho Fiscal.
Há quem, no descrito “acalorado” encontro, tenha levantado a narrativa de uma eventual gestão danosa associada à actual direcção. Mas o general Altino dos Santos, presidente da Mesa da Assembleia do 1.º de Agosto, acalmou os adeptos, nos termos segundo os quais a reunião não foi de aprovação de contas, mas de apreciação.
A E&M tentou ouvir um integrante da Mesa da Assembleia Geral do 1.º de Agosto a propósito das declarações de Carlos Hendrick, mas não foi bem-sucedido.
Um general e um advogado mantêm-se na corrida
Com o anúncio da desistência de Carlos Hendrick, feito na quinta-feira, 21, dois nomes continuam na corrida ao trono do 1.º de Agosto: o general Gouveia de Sá Miranda, candidato da Lista B, e o jurista Egas Viegas, da Lista A.
A informação sobre a retirada do general Hendrick da corrida eleitoral ecoou na voz do chefe da sua campanha, o também general João Pereira Massano, que observou que a decisão é o resultado de consenso entre os demais integrantes do processo.
Sem avançar mais detalhes, João Pereira Massano referiu que aspectos de natureza interna contribuíram “significativamente” para a saída da recandidatura do homem que presidiu nos últimos 13 anos à agremiação afecta às FAA.
Carlos Hendrick é o 8.º presidente da história da formação militar, depois de Santana André Pitra ‘Petroff’ (1977-1979), Pedro de Castro Van-Dúnem 'Loy’ ( 1979-1982), Henriques Teles Carreira ‘Iko’ (1982-1988), Justino Fernandes (1988-1993), Mello Xavier (1993-1999), Pedro Neto (1999-2007) e Raul Hendrick (2007-2011).
Um clube mergulhado em dívida milionária
A braços com uma crise financeira, que já dura três anos, com o montante do passivo a rondar os nove mil milhões Kz, como adiantou, recentemente, Pedro Godinho, conhecido dirigente desportivo nacional e sócio do clube, o 1.º de Agosto caminha para a realização de eleições gerais, para composição de novos corpos sociais para o ciclo 2024-2028.
Fundado a 01 de Agosto de 1977, o Clube Desportivo 1.º de Agosto é uma das maiores agremiações do País, movimentando as modalidades de futebol, basquetebol, andebol, hóquei em patins, atletismo, judo, pesca desportiva, vela, taekwondo, ténis de campo, xadrez e natação.