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A verdadeira natureza da inclusão financeira

José Gualberto Matos
12/9/2023
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Foto:
Carlos Aguiar

Temos assistido à invocação do tema da inclusão financeira na imprensa e nas redes sociais, na maior parte das vezes transmitindo uma visão redutora deste conceito.

A definição mais corrente considera como inclusão financeira a oferta de serviços de pagamentos rápidos às populações não-bancarizadas. Mas inclusão financeira significa muito mais do que isso. Significa o acesso a serviços financeiros que ajudem, verdadeiramente, a criar riqueza, e isso envolve a possibilidade de fazer poupança, de fazer pequenos investimentos com recurso ao crédito e de aceder aos seguros para proteger o património e a saúde. Apesar de quase nunca se falar nisso, o acesso aos seguros é também parte da inclusão financeira.

A transformação digital dos pagamentos, reduzindo o uso de moeda física, traz imensa conveniência às pessoas, como o pagamento à distância e a segurança. Mas também traz benefícios para o Estado, na medida em que contribui para a redução do dinheiro físico em circulação. Em Angola, estima-se que o custo com a emissão monetária supere 100 milhões de dólares por ano.

Mas transformação digital dos pagamentos é apenas a porta de entrada para a inclusão financeira, a porta que se abre para a verdadeira inclusão financeira, que necessita da bancarização. Não há crédito sem poupança e não há poupança sem bancarização. E não há economia virtuosa sem crédito.  

Por isso é que, na base dessa noção mais alargada de inclusão financeira, advogamos que Angola precisa de um banco orientado para a inclusão financeira. Na minha opinião, só há duas razões para o Estado deter capital no sector bancário: para assegurar o financiamento ao desenvolvimento e assegurar a inclusão financeira. Porque são duas missões que dificilmente os bancos privados podem assegurar numa lógica de mercado e livre concorrência.

Neste sentido, vejo o Estado a deter apenas dois bancos: um banco orientado para o desenvolvimento, o BDA que já existe, e um outro banco orientado para a inclusão financeira, que podia resultar da reconversão do BPC.

Em que medida as comunicações móveis podem ajudar na inclusão financeira? Não há uma verdadeira transformação digital dos serviços financeiros sem Internet móvel de qualidade. Mas é necessário não confundir transformação digital dos pagamentos com moeda ou dinheiro digital. Moeda Digital é a versão desmaterializada da moeda física, cuja emissão é exclusiva dos Bancos Centrais. Mobile money não é moeda digital.  

Em conclusão, a inclusão financeira é mais do que apenas a possibilidade de abrir uma conta bancária e fazer pagamentos electrónicos rápidos. Recorrendo a uma publicação recente da McKinsey, inclusão financeira é sobretudo um meio para atingir um fim, na medida em que pode constituir a ponte que converte oportunidade económica em realização económica.

Leia o artigo completo na edição de Setembro, já disponível no aplicativo E&M para Android e em login (appeconomiaemercado.com).

The true nature of financial inclusion

Lately, we have been witnessing the invocation of the topic of financial inclusion in the press and on social media, mostly conveying a reductionist view of this concept, which is a reason to return to the subject in this space.

The most common definition considers financial inclusion as the offer of fast payment services to non-banked populations. But financial inclusion means much more than that. It means access to financial services that truly help create wealth, and this involves the possibility of saving, making small investments with credit, and accessing insurance to protect assets and health. Although it is almost never talked about, access to insurance is also part of financial inclusion.

The digital transformation of payments, reducing the use of physical currency, brings immense convenience to people, such as remote payment and security. But it also brings benefits to the State, as it contributes to the reduction of physical money in circulation. In Angola, the cost of currency issuance is estimated to exceed $100 million per year.

But the digital transformation of payments is only the gateway to financial inclusion, the gateway that opens up to true financial inclusion, which requires banking. There is no credit without savings, and there is no savings without banking. And there is no virtuous economy without credit.

That is why, based on this broader notion of financial inclusion, we advocate that Angola needs a bank oriented towards financial inclusion. In my opinion, there are only two reasons for the State to hold capital in the banking sector: to ensure financing for development and to ensure financial inclusion. Because these are two missions that private banks can hardly ensure in a logic of market and free competition.

In this sense, I see the State owning only two banks: a bank oriented towards development, BDA, which already exists, and another bank oriented towards financial inclusion, which could result from the reconversion of BPC.

To what extent can mobile communications help with financial inclusion? There is no true digital transformation of financial services without quality mobile internet. But it is necessary not to confuse digital transformation of payments with digital currency or money. Digital currency is the dematerialized version of physical currency, whose issuance is exclusive to central banks. Mobile money is not digital currency.

In conclusion, financial inclusion is more than just the possibility of opening a bank account and making fast electronic payments. Referring to a recent publication by McKinsey, financial inclusion is mainly a means to achieve an end, as it can constitute the bridge that converts economic opportunity into economic realization.

Read the full article in the September issue, now available on the E&M app for Android and at login (appeconomiaemercado.com).