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África desde o dia em que a Rússia invadiu a Ucrânia

Ana Luísa Campos
24/5/2023
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Foto:
Carlos Aguiar

Que lugar ocupa o continente africano no conflito da Rússia com a Ucrânia?

África, na disputa entre o Ocidente e a Rússia, ocupa vários espaços importantes, que vão desde a premência das ligações diplomáticas ao potencial dos recursos existentes, até à recorrente apreensão com a inflação.

Em primeira instância, as consequências, desde o início do conflito, são sentidas na escassez dos alimentos mais simples e certos da mesa africana, com destaque para o trigo. Países como a República do Congo, Namíbia, Somália, Tanzânia, Madagáscar, Sudão, Cabo Verde e Burundi têm uma dependência de mais de 50% das exportações do trigo, vindas quer da Ucrânia, quer da Rússia.

A região subsariana do continente sente diariamente o efeito do conflito no sector da alimentação, de forma mais dura e persistente, estando, naturalmente, todas as regiões de África sobre constante pressão no que concerne à escassez alimentícia. Dita o relatório divulgado do Fundo Monetário Internacional (FMI) que o conflito embargou a recuperação regional do continente. "A invasão russa da Ucrânia desencadeou um aumento acentuado dos preços das matérias-primas. Como resultado, espera-se que a actividade económica abrande para 3,8%", afirma o relatório.

O certo é que as sanções aplicadas à Rússia contribuíram, na sua maioria, para o aumento do valor de vários alimentos, tanto por alguns estarem ligados directamente às exportações russas de petróleo e gás e outros devido à alta dos insumos agrícolas oriundos da Rússia. Vladimir Putin garantiu, em Fevereiro passado, enquanto fazia um balanço daquilo a que chama "operação militar especial" ao Parlamento russo, que a estratégia que o Ocidente está a aplicar não está a ter sucesso, nem terá, tendo, sim, o efeito contrário. “Os iniciadores destas sanções estão a castigar-se a si mesmos. Provocaram um crescimento dos preços nos seus próprios países, fecho de fábrica e colapso do sector energético”. Ou seja, a aplicação das sanções está a fazer ricochete e a atingir tudo e todos.

As reuniões de primavera do Banco Mundial e do FMI, que decorreram em Abril, estiveram centradas em preocupações com a elevada inflação, a crescente tensão geopolítica e a estabilidade financeira. A directora do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva, afirmou, antes do encontro, que o combate à inflação se tornou "mais complexo com as recentes pressões do sector bancário nos Estados Unidos e na Suíça" e apontou que "subsistem preocupações sobre vulnerabilidades que podem estar ocultas, não só nos bancos, mas também nos não-bancos".

Quanto ao plano fiscal, a directora do FMI defende que os "novos esforços para reduzir os défices orçamentais são críticos para apoiar a luta contra a inflação e criar espaço fiscal para lidar com crises futuras. Mas esses esforços devem ser associados ao apoio aos mais vulneráveis, especialmente aos que ainda lutam com a crise do custo de vida".

Pese embora a situação alimentar ter melhorado devido aos navios que começaram a zarpar dos portos do Mar Negro com os grãos directos para o continente africano, os preços dos produtos estão muito mais altos, desalinhando, assim, a carteira mensal das famílias do mundo e, mais em concreto, do continente africano.

Leia o artigo completo na edição de Maio, já disponível no aplicativo E&M para Android e em login (appeconomiaemercado.com).

Africa since the day Russia invaded Ukraine

What is Africa's position in the conflict between Russia and Ukraine? In the dispute between the West and Russia, Africa occupies several important spaces, ranging from the urgency of diplomatic links to the potential of existing resources, to the recurring concern with inflation.

In the first instance, the consequences of the conflict are felt in the scarcity of the simplest and most certain foods on the African table, particularly wheat. Countries such as the Republic of Congo, Namibia, Somalia, Tanzania, Madagascar, Sudan, Cape Verde, and Burundi depend on more than 50% of wheat exports from either Ukraine or Russia.

The sub-Saharan region of the continent feels the daily effect of the conflict in the food sector, more harshly and persistently, and all regions of Africa are naturally under constant pressure regarding food shortages. The International Monetary Fund (IMF) report states that the conflict has hindered the regional recovery of the continent. "The Russian invasion of Ukraine triggered a sharp increase in commodity prices. As a result, economic activity is expected to slow to 3.8%," the report said.

The fact is that the sanctions applied to Russia have mostly contributed to the increase in the value of various foods, both because some are directly linked to Russian oil and gas exports, and others due to the high cost of agricultural inputs from Russia. Vladimir Putin assured the Russian parliament last February, while taking stock of what he called a "special military operation," that the strategy being applied by the West is not succeeding, nor will it, having the opposite effect. "The initiators of these sanctions are punishing themselves. They have caused price increases in their own countries, factory closures, and the collapse of the energy sector." In other words, the imposition of sanctions is backfiring and affecting everything and everyone.

The spring meetings of the World Bank and the IMF, held in April, were focused on concerns about high inflation, growing geopolitical tensions, and financial stability. IMF Managing Director Kristalina Georgieva said ahead of the meeting that combating inflation has become "more complex with recent pressures from the banking sector in the United States and Switzerland" and pointed out that "concerns remain about vulnerabilities that may be hidden not only in banks, but also in non-banks."

As for the fiscal plan, the IMF director argues that "new efforts to reduce budget deficits are critical to supporting the fight against inflation and creating fiscal space to deal with future crises. But these efforts must be associated with support for the most vulnerable, especially those still struggling with the cost of living crisis."

Despite the fact that the food situation has improved due to ships sailing from Black Sea ports with direct grains to the African continent, product prices are much higher, thus misaligning the monthly budget of families around the world and, more specifically, in Africa.

Read the full article in the May issue, now available on the E&M app for Android and at login (appeconomiaemercado.com).