Os últimos nove meses foram uma época de “altas expectativas” de mudanças políticas e económicas em Angola. Ao nível legal e regulatório há sinais de melhorias e a convicção de que existe vontade política para melhorar o status quo, o que mantém os investidores confiantes na retoma da economia. Porém, para recuperar o desempenho da mesma, é preciso muito mais do que promessas e planos bem elaborados. Sem a melhoria da governação e um efectivo combate à corrupção sistémica, dois males que andam de mãos dadas, dificilmente se assistirá ao take-off.
Angola sabe o que quer e que caminho seguir para a retoma da economia, porém, vários factores conjunturais, essencialmente de âmbito político e governativo, ainda ofuscam a visão do que se pretende. Mas a solução, embora demorada, é clara e única. O Fundo Monetário Internacional (FMI) recomenda que o Governo angolano alinhe a qualidade da governação e o nível de percepção da corrupção no país à média da África Subsariana, pois essa medida “pode acelerar o crescimento real do PIB per capita em 2 pontos percentuais por ano, ou possivelmente mais, dependendo da profundidade e da qualidade das reformas, assim como dos objectivos das autoridades”. Ou seja, esclarece aquele organismo financeiro, “como os preços do petróleo devem permanecer suaves no futuro próximo, uma melhor governação ajudaria a promover o desenvolvimento liderado pelo sector privado e a alcançar um crescimento mais sustentável e inclusivo”.
Segundo o FMI, os avanços obtidos por Angola nos últimos anos foram insuficientes para aproximar o país da média regional em dimensões importantes da governação. Por outras palavras, “Angola aumentou a eficácia do governo, mas avançou menos no Estado de direito e em áreas que apoiam os direitos de propriedade, como o registo de propriedade e o cumprimento de contratos”, sendo que este último, por sua vez, “reflecte, em parte, um sistema judiciário ineficiente e um sistema ineficaz para a solução de conflitos no sector privado”, daí que “os empresários consideram que lidar com os funcionários da administração tributária ou obter uma licença ou autorização em Angola é oneroso em comparação com o que ocorre em países congéneres”.
A percepção da corrupção em Angola é mais elevada em relação à de países congéneres, o que sugere, segundo o relatório do FMI, que “as políticas que favorecem a governação em geral também podem reduzir as oportunidades de corrupção” no país.
Com base nas previsões do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola, no seu Relatório Económico de 2016, que anteviu a viragem de ciclo da economia angolana apenas em 2020, a baixa intensidade de crescimento do PIB deveria manter-se até 2021, a uma taxa média anual de 1,4% entre 2017 e 2021, se não fossem criadas “condições básicas e essenciais para se inverter este ciclo de crescimento económico de baixa intensidade e de desaceleração estrutural da dinâmica evolutiva da economia nacional”.
Entretanto, de acordo com as projecções do Governo angolano, o PIB deverá crescer, entre 2018 e 2022, em termos reais, a uma taxa média de 3,0%, com o sector petrolífero (incluindo o gás natural) a diminuir em média 2,0%, e o sector não petrolífero a crescer em média 5,1%, o que pressupõe
uma aceleração gradual do crescimento económico nacional, liderada pelo sector não petrolífero, nomeadamente a agricultura, pescas, indústria transformadora, construção e serviços.
No período em análise, o sector agrícola, segundo o Plano de Desenvolvimento Nacional 2018-2022 (PND), terá um desempenho médio de 8,9%, sustentado pelo aumento da produção em fileiras directamente ligadas à dieta alimentar das populações. As pescas, por sua vez, deverão registar uma taxa de crescimento real média de 4,7%, com maior relevância para o último do ciclo, em que essa taxa se situará nos 8,3%. O sector pesqueiro, segundo o PDN, vai beneficiar da remobilização de 10 navios que permitirão uma produção média de 303.000 toneladas resultantes da pesca industrial e semi-industrial, 232.400 toneladas da pesca artesanal e 3.580 toneladas da aquicultura.
Já a extracção de diamantes, de minerais metálicos e de outros minerais terá um desempenho de 9,4% (taxa de crescimento real média), descreve o documento. Esse comportamento deverá resultar da entrada em exploração de novas minas de diamantes (Luaxe) e de novas pedreiras para produção de rochas ornamentais, além da continuidade da produção de outras minas como a Catoca, o Cuando e o Chitolo. Mas um melhor desempenho desse sector poderá ocorrer em 2019, com um crescimento de 15,5%.
A perspectiva de crescimento no período do PDN 2018-2022 é transversal a todos outros sectores da economia, nomeadamente a indústria transformadora (5,9% de taxa real média de crescimento); construção (3,8%); energia e águas (7,7%); serviços - que inclui comércio, transportes, correios e telecomunicações, intermediação financeira, serviços imobiliários e aluguer, outros serviços mercantis, como o turismo integrado - (5,8%,); e o sector público administrativo, que deverá registar uma taxa média de crescimento, entre 2018 e 2022, de 2%, aumentando para 3% em 2022, decorrente da “consolidação fiscal perspectivada que resultará na redução do consumo e do investimento públicos”, perspectiva o Governo angolano.
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