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Arábia Saudita e o Sportwashing: Rebranding através do desporto

Nuno Fernandes
4/9/2023
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Foto:
DR

A Arábia Saudita mostra-se aberta ao mundo, apta a abraçar políticas tendentes à defesa dos direitos humanos, capítulo em que é das nações mais criticadas.

Usando o PIF- Fundo de Investimento Público (fundo soberano), avaliado em 650 mil milhões de USD, o governo saudita, liderado pelo príncipe Mohammed Bin Salman (MBS), encetou uma onerosa campanha de lavagem de rosto usando o desporto como palco privilegiado, sobretudo o futebol. Quatro clubes (o Al Alli - hoje treinado pelo português Jorge Jesus -, Al-Ittiahd, Al Hilal e o Al Nassr onde joga Cristiano Ronaldo) receberam do PIF significativos fundos para recrutar e esvaziar, dos maiores clubes europeus, jogadores de renome mundial, transferindo-os para o campeonato saudita a troco de somas milionárias até gora jamais praticadas. Com isso pretende-se, de forma já conseguida, dar visibilidade mundial a um campeonato absolutamente desconhecido, pela actuação dos media concentrados neste novo caso, com transmissão em directo dos jogos nos maiores canais de TV. Os objectivo ficam claros:

- Criar espaço mediático (obtido);

- Mostrar uma Arábia Saudita  aberta ao mundo, competitiva, pujante, a modernizar-se,  apta a abraçar políticas tendentes à defesa dos direitos humanos, capítulo em que é das nações mais criticadas do mundo. Em Março de 2022, num só dia, foram decapitadas 81 pessoas, sendo que no mesmo ano foram executadas 138 pessoas, o dobro em relação a 2021.

Todo este investimento está a coberto do programa VISION 2030 que visa levar à Arabia Saudita iniciativas de grande vulto internacional e a tornar-se, a curto prazo, num destino mundial de turismo e tecnologia.

- O campeonato mundial de futebol numa tentativa de o fazer regressar à região depois do sucesso do CATAR;

- O Campeonato do Mundo de Clubes, já em Dezembro próximo, na cidade de Jida, com um representante de cada continente e de mais um da Arábia Saudita, o Al Hilal;

- Junto da FIFA  tenta a organização de uma prova rival à liga dos Campeões da Europa para 2025, com 32 equipas incluindo as 4 da Confederação Asiática de Futebol.

- Em 2029 a Arábia Saudita vai acolher os jogos asiáticos de inverno, numa zona deserta e montanhosa onde serão construídas pistas de Sky com neve artificial.

- Para 2036 pretende candidatar-se à realização dos jogos olímpicos, na futura cidade de Neon, num projecto avaliado em cerca de 500 mil milhões de dólares, numa área quatro vezes a cidade de Nova Iorque.

Não tendo ido para a Arábia Saudita, Leonel Messi assinou um contrato de 22,5 milhões de dólares para estar em vídeos promocionais de viagens à Arábia Saudita a que se juntam outros largos milhões de dólares para promoção de um circuito rival de golf do PGA Tour dos EUA, desportos motorizados (acolhe desde 2021 o Grande Prémio de Formula 1), Boxe e Ténis.  O número de federações desportivas aumentou em 50%. O nível de actividade física passou de 13% em 2015 para 48 % actualmente. Mas tudo se estende também à actividade cultural. Em 2018 venderam-se no país 50 mil bilhetes de cinema. Em 2021 os números subiram vertiginosamente para 13,5 milhões. Centros culturais, teatros cafés literários e expectculos musicais como o MDL Beast são não só autorizados como patrocinados pelo estado saudita.

São exemplos de como um Fundo Soberano está a ser usado por um Estado para se promover e desenvolver com o contributo activo e residente da Microsoft, Google, Oracle, Meta e Aple, onde o produto interno bruto (PIB) é de cerca de 23 mil euros por habitante, mas onde uma parte dos seus 40 milhões de habitantes lutam para sobreviver, a par, como dissemos, de uma luta gigantesca pela defesa dos direitos humanos onde as mulheres e oponentes de consciência são sobretudo são a peça mais frágil.