“Pobreza e desemprego são o cocktail perfeito para o incremento da desigualdade, podendo essa tornar-se no rastilho para perturbações sociais expressivas e graves”, escreveu o economista Alves da Rocha, num contributo ao grupo social do Conselho Económico e Social, organismo que trabalha directamente com o Presidente da República, João Lourenço, e de quem recebe contribuições de vária ordem para as decisões políticas.
Noutro artigo, recentemente publicado no Jornal Valor Económico, o também director do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola escreveu que o “desemprego, a falta de oportunidades, a recessão económica, a degradação ambiental e a desigualdade de rendimentos resultaram na criação de um incrível exército de pobres (estimado em 45% da população total, correspondente a mais de 14 milhões de pessoas), relativamente a quem o Estado criou uma verdadeira dívida social, seguramente mais elevada, em relação ao PIB, do que a dívida do Governo, contraída em nome do Estado, mas sem efeitos de retorno visíveis e consolidados”.
A análise do economista é apenas a visão mais científica de um episódio dramático a que se assiste diariamente, quando abrirmos os portões dos nossos quintais ou ficamos presos no trânsito, e pelotões desse exército de pobres correm em nossa direcção a pedir ajuda para matar a fome. Ou seja, em quatro anos, a economia seguiu o ritmo de recessão dos dois anos anteriores, e esse fraco desempenho, para além de destruir emprego, obrigou a que milhares de empresas tivessem de fechar, traduziu-se na redução da dimensão da economia, retirando o país da posição de terceira maior economia da África Austral (com um PIB de USD 145,66 mil milhões em 2014), para a sétima posição (com um PIB de USD 59,35 mil milhões em 2020). Esse desempenho precipitou o incremento dos níveis de pobreza em Angola, que, de acordo com o Plano de Desenvolvimento Nacional (2018-2022), deveriam fixar-se em 25% até 2022, contra os 36% de 2017, um nível distante dos actuais 40,6%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
A evolução negativa do PIB terá sido pressionada pelo fraco nível de investimento assistido ao longo do período em referência. Conforme o PDN 2018-2022, o Governo previu uma taxa de crescimento média do Investimento em Formação Bruta de Capital de 2,7%, o que, em termos acumulados, poderia permitir um investimento de USD 114,3 mil milhões, numa média anual de USD 22,9 mil milhões. A conjuntura internacional desafiante e a manutenção da política monetária restritiva reduziram os níveis de captação de investimento que, de acordo com as estimativas do The Economist, se fixaram em USD 53,589 mil milhões, o que representa 46,80% do montante previsto no PDN 2017-2022. Paralelamente, a contracção do PIB e a manutenção da taxa de crescimento da população reduziram o PIB per capita de Angola e adiaram para 2024 a graduação de Angola para a categoria de País de Rendimento Médio. Em termos líquidos, o PIB per capita, ao situar-se nos USD 1 886, recuou de forma expressiva, estando hoje em níveis assistidos em 2006.
Leia o artigo completo na edição de Setembro, já disponível no aplicativo E&M para Android e em login (appeconomiaemercado.com).
Inequality Cocktail: fewer jobs, more poverty
The 2017 election promises made by the MPLA (election winner) - with João Lourenço as the lead candidate - are yet to become a reality, in a country plague by economic and social difficulties. One of the promises the electorate most complains about is the creation of 500,000 jobs.
“Poverty and unemployment make the perfect cocktail for the increase of inequality, which can become the fuse for significant and serious social disturbances,” wrote economist Alves da Rocha, in article intended to be a contribution to the social group of the Economic and Social Council, a body that works directly with President João Lourenço and from whom he receives advice on various issues for political decisions. In another article, recently published in the newspaper Valor Económico, the director of the Center for Studies and Scientific Research (CEIC) of the Catholic University of Angola wrote that “unemployment, lack of opportunities, economic recession, environmental degradation and income inequality have resulted in the creation of an incredible army of poor people (estimated at 45% of the total population, i.e., more than 14 million people). The government has a real social debt with those people, certainly higher in relation to the GDP than the debt contracted on behalf of the state, but without visible and consolidated return effects.
Alves da Rocha’s analysis is only the most scientific view of a dramatic episode we witness every day when we open the gates of our yards, or when we are stuck in traffic, and platoons of that army of poor people run towards us asking for help with food because they are starving. In other words, in four years, the economy has stayed in the same recession course of the previous two years, and this poor performance, in addition to destroying jobs and forcing thousands of companies to close, has caused the economy to shrink. As a result, the country has gone from being the third largest economy in Southern Africa (with a GDP of 145.66 billion USD in 2014), to being the seventh (with a GDP of 59.35 billion USD in 2020). This performance led to the increase of poverty levels in Angola, which, according to the 2018-2022 National Development Plan, should settle at 25% by 2022, down from 36% in 2017, a far cry from the current 40.6%, per data from the National Statistics Institute (INE).
The negative evolution of the GDP was likely pressured by the poor investment made throughout the period under review. According to the 2018-2022 NDP, the Government projected an average growth rate of Investment in Gross Capital Formation of 2.7%, which in cumulative terms could allow an investment of USD 114.3 billion, with an average annual investment of USD 22.9 billion. The fact is that the challenging international environment and the maintenance of the restrictive monetary policy have caused a drop in investments which, according to estimates by The Economist, were valued at USD 53.589 billion, corresponding to 46.80% of the amount foreseen in the 2017-2022 NDP. At the same time, the contraction of the GDP and the maintenance of the population growth rate, reduced Angola’s GDP per capita and postponed to 2024 Angola’s graduation to the Middle-Income Countries category. In net terms, at USD 1,886, the GDP per capita has shrunk significantly and is now at the levels seen in 2006.
Read the full article in the Setember issue, now available on the E&M app for Android and at login (appeconomiaemercado.com).