Depois de uma nacionalização crítica em 1974, a EAL, uma companhia de referência do nosso continente, criada nos anos 40, viu os seus resultados, antes positivos, descerem para patamares perto da falência técnica. Deposto o Governo de Menjistu Hailé Marian, as novas autoridades etíopes convidaram o antigo dono, o comandante Mohammed Ahmed, e a sua equipa, para, numa gestão sob contrato, salvarem a companhia, devolvendo-a aos lucros. Não a reprivatizaram! Foi assinado um contrato-programa com duas nuances importantes. A companhia manteria o serviço público nos voos internos, subsidiados pelo Estado, enquanto teria total autonomia, sem qualquer interferência governamental, na política de recursos humanos, de exploração e definição de rotas internacionais, definição de preços, serviço de carga e correio, manutenção e aquisição de aeronaves. Decidiu-se que, no final de cada exercício financeiro, a EAL deduziria, nos impostos a pagar, o valor do serviço público prestado.
A companhia aérea etíope é aquela que possui o mais elevado kno-how entre as suas pares do continente e dos melhores a nível mundial. As suas áreas de manutenção e de operações são uma referência mundial. Os números espelham o trabalho feito: Em 2019 (pouco antes do Covid), fez 3,9 mil milhões de dólares de volume de negócios. Transportou 12,1 milhões de passageiros. Possuía 13.900 trabalhadores para uma frota de 134 aviões a operarem para 127 destinos. Um rácio de 103 funcionários por aeronave, número enquadrado nos melhores parâmetros da indústria. Nesse ano, o lucro operacional, depois de impostos, foi de 260 milhões de dólares. Os salários dos gestores, acima dos 50 mil dólares mensais, são públicos, aos quais se adicionam prémios por resultados em consonância com as melhores práticas da Indústria. Convém assinalar que o transporte de carga teve papel decisivo na estabilização das contas da empresa. Em 2021, dados publicados pela Skytrax, a maior auditora de companhias aéreas do mundo, a EAL ocupou o 37.º lugar entre as melhores 100 do Mundo, sendo, de longe, a melhor de África. Para termos uma ideia, a TAP ocupou o 77.º lugar; a United Airlines em 60.º, a South African Airways em 67.º, Brussels Airilnes em 69.º, a China Air Lines em 75.º. A TAAG não está nesta lista das 100 melhores. Sendo estatal, a EAL está à frente de muitas empresas privadas de maior dimensão. O que faz a diferença é a gestão e a forma pragmática como o Governo etíope protege este seu activo. Não se imiscui na gestão, honra o contrato-programa feito com os gestores contratados, protege-os nas suas decisões.
A Etiópia é um país de eternos conflitos militares, onde o populismo não conquistou lugar na discussão sobre a gestão da sua companhia aérea.
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Can public companies be profitable?
Yes, they can and should be profitable! Ethiopian Air Lines (EAL) is a good example. After a critical nationalization in 1974, EAL, a well-regarded company on our continent created in the 1940s, saw its previously positive results plummet to levels close to technical bankruptcy. After the government of Menjistu Hailé Marian was overthrown, the new Ethiopian authorities invited the former owner, Commander Mohammed Ahmed, and his team to save the company through a contract management, returning it to profitability. They did not privatize it! A program contract was signed with two important nuances. The company would maintain public service on domestic flights, subsidized by the State, while having total autonomy, without any government interference, in human resources policy, exploitation and definition of international routes, pricing, cargo and mail service, maintenance and acquisition of aircraft. It was decided that at the end of each financial year, EAL would deduct the value of the public service provided from the taxes to be paid.
The Ethiopian airline is the one with the highest know-how among its peers on the continent and one of the best worldwide. Its maintenance and operations areas are a worldwide reference. The numbers reflect the work done: In 2019 (just before Covid), it had a turnover of $3.9 billion. It transported 12.1 million passengers. It had 13,900 employees for a fleet of 134 aircraft operating to 127 destinations. A ratio of 103 employees per aircraft, a number in line with the best industry parameters. In that year, operating profit, after taxes, was $260 million. Managers' salaries, above $50,000 per month, are public, to which bonuses for results in line with the best industry practices are added. It should be noted that cargo transport played a decisive role in stabilizing the company's accounts. In 2021, data published by Skytrax, the largest airline auditor in the world, EAL ranked 37th among the top 100 in the world, by far the best in Africa. For comparison, TAP ranked 77th, United Airlines 60th, South African Airways 67th, Brussels Airlines 69th, and China Airlines 75th. TAAG is not on this list of the top 100. As a state-owned company, EAL is ahead of many larger private companies. What makes the difference is the management and the pragmatic way in which the Ethiopian government protects this asset. It does not interfere with management, honors the program contract made with the hired managers, and protects them in their decisions.
Ethiopia is a country of eternal military conflicts where populism has not conquered a place in the discussion about the management of its airline.
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