A população angolana mais que duplicou nos últimos 25 anos, passando de 16,3 milhões em 2000 para cerca de 35,1 milhões de habitantes em 2024, segundo estimativas do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Consultadas pela E&M, as estatísticas indicam que o País enfrenta uma situação de elevada taxa de crescimento populacional, estimada entre 3,0 e 3,1% anuais, com um grau de fecundidade de cinco filhos por mulher uma taxa e uma taxa global de fecundidade de 6,3 (5,3 para as zonas urbanas e 8,2 para as zonas rurais), situando-se, assim, entre as mais elevadas a nível da região da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla em inglês) e do mundo.
Além disso, esta situação faz com que o peso da população jovem (0-14) seja bastante signitiva, o que coloca Angola na terceira posição da lista dos países africanos com maiores taxas de população jovem, de acordo com um relatório divulgado pelo Banco Mundial em 2023.
Para o demógrafo José Bote, a questão da alta natalidade é uma variável que desempenha dupla função: pode significar, por um lado, uma importante premissa de mão-de-obra e potencial reprodutivo; por outro lado, um número considerável de pessoas cujas necessidades devem ser satisfeitas, como educação, saúde, habitação, emprego, etc., que podem pressionar toda economia.
“Numa outra perspectiva, pode ser até mesmo parte da solução. Ou seja, um caminho para a dinamização da economia do País”, sublinha o também docente universitário, para quem o “excedente populacional”, maioritariamente jovem, oferece ao País uma grandiosa oportunidade de acelerar a economia e o progresso social.
Também consultado pela E&M, o sociólogo Moniz Sebastião recorre à teoria marxista para afirmar que o problema em Angola não seria o aumento da população em si, mas as estruturas económicas e políticas que “perpetuam a desigualdade e a injustiça social”.
“A alta taxa de desemprego e a fraca aceleração económica são vistas como consequências do sistema capitalista, que prioriza o lucro sobre o bem-estar da população. Aqui entra a questão dos monopólios a que se assiste”, acrescenta.
Por isso, aponta para a necessidade de se optar pelo caminho da diversificação da economia e a promoção do desenvolvimento de outros sectores produtivos, como a agricultura, turismo, tecnologia e manufactura, para criar empregos e estimular um crescimento económico mais sustentável.
Sugere, além disso, que se façam mais investimentos em infra-estruturas básicas, como transportes, energia e saneamento, para suportar o crescimento populacional e melhorar a qualidade de vida das pessoas, além da promoção de programas de planeamento familiar e saúde reprodutiva.
“Em suma, o crescimento populacional do País, em um contexto de fraca aceleração económica apresenta desafios significativos que necessitam de abordagens holísticas e integradoras que proponham soluções e atendam não apenas o crescimento económico, mas também a justiça social e a melhoria da qualidade de vida para todos os angolanos”, conclui.
Leia este artigo na íntegra na edição de Janeiro de 2024 da revista Economia & Mercado.