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Rótulo e estigmatização étnica em Angola

Moniz Sebastião
20/3/2025
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Foto:
DR

Angola é um país de vasta diversidade étnica, e a sua história de conflito armado agravou as divisões étnicas.

A estigmatização étnica é um problema profundo que pode corroer a coesão social e nacional de qualquer país. Em Angola, essa prática manifesta-se frequentemente através de frases sarcásticas ou "memes", que associam características negativas a determinados grupos étnicos. Os Ovimbundu, também tratados como sulanos, provenientes de Benguela, Huambo, Cuanza Sul e Bié, são frequentemente rotulados como traidores e falsos.

Por outro lado, os Bakongo, langas, oriundos do Zaire, Uíge, Cabinda e parte do Bengo, são muitas vezes associados à feitiçaria e à cobrança exorbitante de dotes.

Embora essas observações possam parecer inofensivas ou humorísticas, elas têm o potencial de assumir contornos preocupantes para a coesão nacional.

Angola é um país de vasta diversidade étnica, e a sua história de conflito armado agravou as divisões étnicas, criando partidos políticos e movimentos religiosos alinhados com três grupos étnicos principais. No norte, a FNLA, predominantemente da etnia Kongo, tinha ligações fortes com igrejas evangélicas e kimbanguistas. No centro, o MPLA era dominado pela etnia Ambundo, com fortes laços com a Igreja Metodista e a Igreja Católica. No sul, a UNITA representava principalmente os Ovimbundu, associados à Igreja Evangélica Congregacional e à Igreja Sinoidal de Angola.

Os políticos têm historicamente explorado estas divisões para ganho político. Por exemplo, a propaganda do MPLA retratou a FNLA como canibalista, uma acusação desmentida posteriormente pelo nacionalista Lopo do Nascimento. Em 1992, os Bakongo foram alvo da "sexta-feira sangrenta" devido à sua alegada associação com a UNITA. Estes exemplos ilustram como a estigmatização étnica pode ser usada para manipular e dividir a população.

Os discursos de brincadeira sobre diferentes etnias podem mascarar intenções ideológicas perigosas, afectando gravemente o projecto de construção de uma nação coesa. O académico e político Victor Kajibanga defende a necessidade de um projecto nacional unificado, juntando-se ao lema declamado pelo primeiro presidente de Angola, António Agostinho Neto, que clamava por "um só povo, uma só nação."

A maior parte da população angolana é jovem, nascida entre as décadas de 1990 e o século XXI. Esta geração conhece pouco da história do país e o que sabe é muitas vezes distorcido pela propaganda política disseminada pela imprensa pública, que tende a proteger os interesses de grupos privilegiados.

É urgente reverter essa tendência. Se não o fizermos, corremos o risco de enfrentar conflitos semelhantes aos que ocorreram no Ruanda entre Tutsis e Hutus, um conflito que também se espalhou para a vizinha República Democrática do Congo. Para evitar tal desfecho, é crucial que Angola se empenhe em construir uma narrativa inclusiva e verdadeira sobre a sua história e que promova uma cultura de respeito e compreensão entre todas as suas etnias, como bem defende Kajibanga.

O autor defende a promoção de um diálogo nacional inclusivo e a educação sobre a verdadeira história do país são essenciais para superar a estigmatização étnica. Somente através de um esforço concertado para entender e valorizar a diversidade étnica é que Angola poderá alcançar uma coesão social sustentável e um futuro de paz e prosperidade para todos os seus povos.