A guerra tem a característica atroz de parecer uma narrativa cujo clímax do enredo, é apresentado logo no início. As pessoas não sabem ao certo o seu começo, apenas que uma vez assinalada, havia dois desfechos possíveis: a derrota ou a vitória.
Os tempos actuais parecem tão irrisórios, como dignos de uma fábula alada: em 2020 enfrenta-se uma pandemia mundial, e hoje a realidade de um conflito armado em solo europeu. Parece que a “policrise” global veio para ficar. A fome é agora um assunto cada vez mais corriqueiro, os confrontos geopolíticos alastram-se em grande escala, e a polarização social e política parecem não ter fim. Os peritos já dizem: isto é uma nova viragem para aquilo que conhecemos até então do século XXI.
A palavra em detrimento do grito
É no seio desta incerteza e instabilidade que algumas obras deram fruto. Afinal de contas, a índole humana procura beleza, ainda que dentro das deformidades do caos. É aqui que entra a arte. É aqui que entra a escrita. Pois, como diria Adília Lopes, o mal é banal, o mistério maior, é o mistério do bem.
Andrei Kurkov, escritor e romancista ucraniano, é autor de mais de dezanove romances, incluindo o best-seller "A morte e o pinguim" e ainda o muito aclamado "Abelhas Cinzentas", primeiro livro do escritor traduzido para o português. Os seus livros estão proibidos na Rússia. Nasceu em São Petersburgo, mas vive em Kiev. Uma da suas obras mais relevantes fala sobre a invasão ocorrida em 2014 na região de Donbass, na Ucrânia, e que foi vista no panorama global como o prenúncio do que hoje se vive: um dos maiores conflitos armados na Europa desde a Guerra Fria.
Os tempos actuais parecem tão irrisórios, como dignos de uma fábula alada: em 2020 enfrenta-se uma pandemia mundial, e hoje a realidade de um conflito armado em solo europeu. Parece que a “policrise” global veio para ficar.
O livro "Abelhas Cinzentas", recentemente lançado em português, oferece forma e voz aos "seres humanos que decidiram ficar em casa, que foram abandonados e esquecidos" pela guerra. O que leva alguém a colocar a sua vida em risco, em detrimento da sua própria segurança? O autor antecipou o pensamento comum: "muitas vezes as pessoas escolhem o medo de ficar em casa".
O desconhecido parece-lhes mais perigoso. Ainda sobre o carácter do povo ucraniano reitera: as pessoas na Ucrânia apreciam a liberdade mais do que o dinheiro ou a estabilidade. E esta liberdade só é possível enquanto a Ucrânia for independente.
Actualmente, desde o início da ofensiva russa, o escritor vive pelo mundo a falar sobre a Ucrânia e a angariar fundos e ajuda para os refugiados. Sente que é seu "dever" dar visibilidade a quem não se sente visto.