A síndrome do pequeno poder está amplamente estudada pelos psicólogos e refere-se à arrogância assumida por um indivíduo, quando lhe é conferido um pequeno poder, exorbitando a sua autoridade, numa total ausência de empatia com o sofrimento alheio, chegando mesmo a humilhar os outros, sem nunca se importar com os problemas que pode causar.
É atribuída a Maquiavel a afirmação “dê poder e descobrirá quem o homem realmente é”. O ditado português “se queres conhecer o vilão, põe-lhe uma vara na mão” corresponde ao provérbio turco "se quiser saber como uma pessoa é, dê-lhe poder”.
Não se deve confundir a síndrome do pequeno poder com a húbris, que tem a ver com o exercício prolongado de um grande poder, o que pode provocar alterações comportamentais que levam à soberba, excesso de confiança e perda de discernimento. A história universal está cheia de manifestações de húbris, que tanto mal causou.
A síndrome do pequeno poder torna-se nefasta quando ultrapassa a esfera individual para se tornar num problema social e fica arreigada na cultura de um povo, como refere a psicóloga brasileira Heleieth Saffioti. André Fontes, um professor português, num artigo recente, refere que esta síndrome não é rara. Pelo contrário, é quase uma questão animal que é transversal ao ser humano.
Acrescentaria eu que a síndrome do pequeno poder esconde muitas vezes um complexo de inferioridade.
Um aspecto da maior relevância na sociedade angolana é a relação entre a síndrome do pequeno poder e a pequena corrupção nos serviços públicos, porque são fenómenos que se reforçam e se confundem. Nesse sentido, combater a síndrome do pequeno poder pode contribuir para combater a pequena corrupção e melhorar a qualidade do serviço público.
O melhor combate à síndrome do pequeno poder é pela via da educação. É fundamental que o Estado promova a educação permanente dos servidores públicos contra a prevalência da síndrome do pequeno poder, fazendo reflectir isso nos conteúdos das provas de ingresso e promoção e nos programas de refrescamento profissional.
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The syndrome of small power
Few can say that they have never encountered a manifestation of the syndrome of small power.
The syndrome of small power has been widely studied by psychologists and refers to the arrogance assumed by an individual when given a small amount of power, exceeding their authority, with a complete lack of empathy for the suffering of others, even going as far as to humiliate others, without caring about the problems it may cause.
Machiavelli is attributed with the statement "give someone power and you will discover who they truly are". The Portuguese saying "if you want to know someone's true character, give them a position of power" corresponds to the Turkish proverb "if you want to know what someone is like, give them power".
The syndrome of small power should not be confused with hubris, which is related to the prolonged exercise of great power, which can lead to behavioral changes that result in arrogance, excessive confidence, and loss of discernment. Universal history is full of manifestations of hubris, which have caused so much harm.
The syndrome of small power becomes harmful when it goes beyond the individual sphere and becomes a social problem deeply rooted in a culture, as noted by Brazilian psychologist Heleieth Saffioti. André Fontes, a Portuguese professor, in a recent article, states that this syndrome is not rare. On the contrary, it is almost an animalistic trait that is inherent in human beings.
I would add that the syndrome of small power often hides a sense of inferiority.
An aspect of great relevance in Angolan society is the relationship between the syndrome of small power and petty corruption in public services, as these phenomena reinforce and merge with each other. In this sense, combating the syndrome of small power can contribute to combating petty corruption and improving the quality of public service.
The best way to combat the syndrome of small power is through education. It is crucial for the state to promote the lifelong education of public servants to counteract the prevalence of the syndrome of small power, reflecting this in the contents of entrance and promotion exams and in professional development programs.
Read the full article in the January issue, now available on the E&M app for Android and at login (appeconomiaemercado.com).