A revolução digital avança mesmo onde não é visível. Porque é que os conselhos de administração devem agir hoje para governar o futuro?
O mundo financeiro global vive uma revolução impercetível, mas irreversível, onde algoritmos inteligentes estão a redefinir tudo — desde a análise de crédito, com modelos que avaliam o risco de clientes com base em dados comportamentais e históricos, até à protecção contra fraudes. Enquanto alguns mercados avançam a todo o vapor, outros, como o angolano, encaram esta mudança com relativa — ou até excessiva — cautela. Mas uma coisa é certa: a Inteligência Artificial (IA) já não é ficção científica, mas sim uma realidade que veio para ficar. Os conselhos de administração que adiarem esta discussão arriscam-se a comprometer a adaptação das suas instituições aos novos modelos de negócio que estão a emergir e, a curto/médio prazo, a ficarem para trás.
Embora o sistema bancário nacional revele um dinamismo crescente do ponto de vista tecnológico, a adopção e implementação da IA nos processos ainda se encontra numa fase embrionária. Contudo, a sua influência já se faz sentir em três áreas incontornáveis:
1. Análise de dados: Se hoje alguns bancos classificam os clientes com recurso a folhas de Excel mais ou menos complexas, amanhã utilizarão machine learning para identificar padrões invisíveis aos actuais modelos de análise.
2. Segurança digital: Ferramentas básicas de detecção de anomalias estão a evoluir para sistemas autónomos, capazes de antecipar ciberataques antes que ocorram, analisando vulnerabilidades internas e comparando-as com padrões registados no mercado.
3. Experiência do cliente: Os chatbots actuais são apenas o prenúncio de assistentes virtuais que compreenderão as necessidades financeiras dos clientes e terão capacidade para propor soluções mais personalizadas.
O verdadeiro risco não está no que já se utiliza, mas no que está por vir. Quando um banco adquire hoje um sistema de análise de crédito, está, na prática, a plantar a semente de uma futura IA que tomará decisões de forma autónoma. Mas até que ponto os conselhos de administração estão preparados para compreender como esta tecnologia funciona e qual é o seu real potencial? Estarão cientes dos vieses que podem estar embutidos nesses algoritmos?
Governar agora para não remediar depois.
A questão central não é quando implementar a IA, mas sim como governar a sua evolução desde já. Os conselhos de administração enfrentam, neste momento, quatro desafios essenciais:
i. Compreender a velocidade desta transformação, para não serem surpreendidos;
ii. Investir no conhecimento interno e na capacidade de gestão desta tecnologia;
iii. Estabelecer princípios éticos antes que os algoritmos comecem a decidir autonomamente;
iv. Criar quadros regulatórios internos para mitigar riscos futuros e garantir alinhamento estratégico.
Acções práticas que podem fazer a diferença:
· Designar um responsável sénior com competências digitais que possa acompanhar estas tendências e assegurar a ponte entre a tecnologia e o governance da instituição.
· Criar um comité consultivo com especialistas em ética tecnológica e inteligência artificial.
· Incluir nos relatórios trimestrais não apenas indicadores financeiros, mas também a evolução da estratégia digital e tecnológica do banco.
Os bancos que tratarem a IA como uma questão estratégica — e não meramente técnica — ganharão uma dupla vantagem: reduzirão os custos associados à correcção de erros futuros e posicionar-se-ão como líderes da nova era financeira africana.
A questão não é se Angola está preparada, mas sim se os líderes do sector financeiro estão a preparar-se para o futuro que se aproxima rapidamente.