Angola perde, mensalmente, entre 15 a 20 milhões de dólares norte-americanos em mensalidades pagas à concessão de sinais de satélites pertencentes a outros Estados. Em 2017, o país contaria com o seu próprio aparelho, tomando dianteira no cômputo dos países africanos de expressão portuguesa e também junto da SADC, sem considerar a África do Sul. Porém, após o lançamento, o aparelho, num primeiro momento perdeu-se em órbita e, depois de localizado, apresentou anomalias no seu funcionamento. Os russos prometem construir outro, pelo qual Angola vai aguardar durante mais cinco anos.
Desde sempre que Angola depende da prestação de satélites alheios e paga caro para manter os serviços de comunicações quase exclusivamente subordinados a estes aparelhos. A factura mensal por estes serviços roça os 20 milhões de dólares, segundo o Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação.
Quer dizer, o Governo, as empresas provedoras de Internet, de telefonia, de TV e qualquer outro serviço que envolva comunicações tomam parte deste recibo e, no final de todo o processo, cobram o investimento ao cidadão, o último ponto nesta cadeia.
Entretanto, fonte ligada ao sector das telecomunicações afirmou à Economia & Mercado que numa altura em que o país está também a ser ligado por fibra óptica o investimento num satélite é “completamente inviável, a menos que se considerem os 300 milhões de dólares um fundo perdido”.
De resto, segundo outras fontes, foram os excessos nos gastos que levaram as autoridades angolanas a pensar na possibilidade de criar o seu próprio projecto espacial e a abrir uma nova era no sector das telecomunicações no país. Para o efeito, solicitaram aos russos, que “andam nesta vida desde os anos 50 do século XX”, para executar o projecto avaliado em 300 milhões de dólares. Na prática, os angolanos injectam a verba e os russos responsabilizam-se pelo fabrico, montagem, colocação do aparelho em órbita e observação permanente (24h) durante dois anos, altura em que a “RKK Energia”, empresa russa responsável pela execução do projecto, entregará de modo definitivo a gestão do satélite aos mais de cem técnicos angolanos treinados para o efeito.
Em Angola, na zona da Funda, a cerca de 90 quilómetros do centro de Luanda, foi erguido o centro de controlo deste projecto. Será nesse centro que irá trabalhar parte dos cem técnicos angolanos, manuseando o aparelho que deverá orbitar a 36 mil quilómetros da terra.
Erguido em 6.617 metros quadrados, o Centro de Controlo e Missão do Angosat 1 possui três pisos, um teleponto, parque de estacionamento com 50 lugares, áreas
verdes e outros espaços diversos. A estrutura terá a missão de controlar, rastrear e fazer a telemetria dos dados enviados pelo Angosat 1 ou, melhor dizendo, Angosat 2.
O satélite angolano entraria em órbita no segundo semestre do ano passado, por via do Zenit, um foguete russo responsável pelo lançamento a partir da base de Baikonur, no Cazaquistão, primeira e maior base de lançamentos de foguetes do mundo, que está em operação desde 1950. No entanto, as espectativas criadas em torno do aparelho acabaram por cair por terra. O aparelho “apresentou falhas técnicas” tão logo alcançou a órbita, segundo o discurso oficial.
Hoje, cerca de 1740 satélites activos orbitam a terra, além de 2600 satélites “mortos” que estão a flutuar no espaço como sucata. Segundo o Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, o satélite angolano até foi localizado, mas não responde. “Por isso, negociámos as compensações e o início da construção de um outro, embora a parte russa continue a monitorar o satélite. Neste tipo de indústria é normal que isso aconteça. Há satélites que nem saem da plataforma, explodindo. Basta ver o que aconteceu nos últimos quatro meses nesta indústria. Nós conseguimos colocar o satélite em órbita”, justificou o ministro José Carvalho da Rocha em declaração pública.
Por ser uma empreitada que envolve custos financeiros muito avultados, a gestão do Angosat 1, quer dizer, Angosat 2, contratou uma seguradora internacional para salvaguardar o projecto, não tendo, no entanto, divulgado o valor da apólice.
As muitas espectativas que envolveram a entrada em funcionamento do Angosat 1 justificam-se por esta ser uma experiência nova para Angola e por abrir a possibilidade de se avaliar a redução dos custos nas telecomunicações do país. Ainda recentemente o Instituto Nacional das Comunicações (INACOM) anunciou a subida dos custos de chamadas telefónicas de 7,2 kz para 10 kz por Unidade Tarifária de Telecomunicações (UTT).
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