A decisão de dividir geograficamente uma cidade ou província como Luanda, rica em história e servindo como metrópole, tem profundas implicações políticas, económicas, sociológicas e ambientais.
Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) e das Nações Unidas indicam que Luanda tem experimentado um crescimento populacional acelerado, com cerca de 10,7 milhões de habitantes. Bairros como Bairro Uíge, Huambo, Malanjinho, Palanca, Mabor, Petrangol e Futungo surgiram como formas de reagrupamento étnico de populações rurais que migraram para a capital em busca de melhores condições de vida.
Este êxodo rural tem conduzido à criação de comunidades que, apesar de manterem fortes laços culturais, enfrentam desafios significativos devido ao crescimento desordenado e à construção informal.
Dividir Luanda pode gerar tensões políticas, especialmente se a redistribuição de poder ou recursos for percebida como injusta. As divisões administrativas podem ser vistas como tentativas de redistribuir o poder político, fragmentar a influência de certos grupos, causando conflitos e instabilidade política. Exemplo disso foi a transferência da capital da Nigéria de Lagos para Abuja, uma tentativa de centralizar o poder que gerou resistência política e social.
A divisão de uma metrópole como Luanda pode afectar a distribuição de recursos e investimentos. Novas áreas administrativas podem ter dificuldades em atrair investimentos, enquanto a área central pode continuar a concentrar a riqueza. A reestruturação administrativa resultaria em custos adicionais para a criação de novas infra-estruturas e duplicação de serviços públicos. O exemplo da Nova Capital Administrativa do Egipto, que visa aliviar a superlotação do Cairo, ilustra os elevados custos e desafios de tal empreendimento.
Em termos sociais, dividir Luanda pode intensificar a segregação social e espacial. Novas divisões podem criar bairros mais homogéneos em termos de classe social e etnia, exacerbando as desigualdades existentes. Além disso, a fragmentação pode afectar o senso de identidade e pertença dos habitantes, que podem sentir-se desconectados das novas unidades administrativas.
Olhando para a sua dimensão ontológica, a divisão de Luanda pode desrespeitar dinâmicas culturais e sociais estabelecidas. A cidade possui uma história rica e complexa, com bairros que têm significados culturais e históricos profundos. A divisão geográfica pode diluir essas identidades culturais e impactar negativamente a coesão social.
O crescimento desordenado e a construção informal em Luanda têm consequências ambientais significativas. A falta de planeamento adequado leva à degradação de ecossistemas locais e à poluição, dificultando o acesso a serviços essenciais como saneamento, bombeiros e emergências médicas.
Conclusão
Dividir Luanda envolve considerações complexas e multifacetadas. Embora possa trazer benefícios como descongestionamento e desenvolvimento regional, os desafios associados incluem elevados custos, potenciais conflitos políticos, segregação social e impactos na identidade comunitária. É essencial que as autoridades abordem estas questões de forma holística, promovendo um desenvolvimento urbano equitativo e sustentável, que respeite tanto os interesses de cidadania, as necessidades imediatas da população quanto a preservação cultural e ambiental.