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Empresas públicas de telecomunicações em Angola expostas ao risco de liquidez

José bucassa
2/10/2023
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Cedida pela fonte

Até 2021, no Universo das Empresas Públicas (UEP) existia apenas uma empresa licenciada com o Título Global Unificado (TGU) no sector das Telecomunicações, trata-se da ANGOLA TELECOM.

Naquele ano, o negócio das telecomunicações representava no Sector Empresarial Público (SEP) cerca de 112.036 milhões de kwanzas em Activos e 10.989 milhões de kwanzas em volume de negócio.

Em 2022, com a entrada da UNITEL no UEP, o activo e o volume de negócio ascendeu significativamente, tendo-se situado em 1.020,9 mil milhões de kwanzas e 376.555 milhões de kwanzas, respectivamente. De acordo com os dados do INACOM referentes ao ano 2022, a UNITEL é a líder de mercado nos serviços de telefonia móvel com uma quota de 69,8% (representa cerca de 16,7 milhões de clientes, considerando o número total de 23,9 milhões de subscrições de telefonia móvel em Angola) e a ANGOLA TELECOM é a terceira maior operadora de telefonia fixa com uma quota de mercado de 17,2%. Deste modo, o sector das telecomunicações passa a ser dominado por empresas púbicas.

Fonte: Análise José Bucassa, com base nos relatórios e contas das empresas

Pela primeira vez, e por razões já conhecidas, em Agosto do ano em curso foram publicamente conhecidas as contas da UNITEL referentes aos anos económicos 2022 e 2021, no âmbito do procedimento anual de publicação das contas do SEP realizado pelo Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE). Este acontecimento possibilitou o acesso à informação que possibilita ter uma melhor caracterização da dimensão do mercado das telecomunicações na vertente económica e financeira.

Pelas demonstrações financeiras das duas empresas, por um lado, verifica-se que o activo total da UNITEL situa-se nos 925.708 milhões de kwanzas (9,7 vezes superior ao da ANGOLA TELECOM), do qual o activo de curto prazo (corrente) corresponde 43% (13% superior ao da ANGOLA TELECOM).

Por outro lado, o total do passivo da UNITEL ascende a 428.037 milhões de kwanzas (2,5 vezes superior ao da ANGOLA TELECOM), do qual os compromissos de curto prazo (corrente) correspondem 95% (27% superior ao da ANGOLA TELECOM).

Este quadro revela que as duas empresas estão expostas a um risco significativo de liquidez. Em termos conceptuais, pode-se entender por Risco de Liquidez a indisponibilidade imediata de fundos para uma empresa fazer face aos compromissos de curto prazo/responsabilidades existentes. Neste sentido, verifica-se que, em 2022, tanto a UNITEL como a ANGOLA TELECOM apresentaram níveis de liquidez inferiores ao recomendável (em teoria, o rácio deve ser idealmente igual a 1), com rácios de liquidez geral de 0,98 (UNITEL) e 0,25 (ANGOLA TELECOM), e de liquidez imediata de 0,60 (UNITEL) e 0,08 (ANGOLA TELECOM).

Este risco também está sinalizado pelo valor do Fundo de Maneio e Dívida Líquida. Quanto ao fundo de maneio, no caso da UNITEL passou de 66.364 milhões positivos, em 2021, para 7.654 milhões kwanzas negativos, em 2022, enquanto na ANGOLA TELECOM manteve-se negativo, passou de 137.898 milhões, em 2021, para 86.965 milhões de kwanzas, em 2022. Já a Dívida Líquida ascendeu a 183.143 milhões de kwanzas (UNITEL) e 161.094 milhões de kwanzas (ANGOLA TELECOM).

Fonte: Análise José Bucassa, com base nos relatórios e contas das empresas

Fonte: Análise José Bucassa, com base nos relatórios e contas das empresas

Pode-se percecionar que, por um lado, as duas empresas precisam alcançar o equilíbrio financeiro para não ficarem vulneráveis a uma redução da actividade. Por outro lado, este risco de liquidez também é influenciado pelo Risco de Crédito (relacionado com os créditos que resultam das vendas e serviços prestados a clientes), considerando que as provisões de cobrança de clientes representam 62% (UNITEL) e 58% (ANGOLA TELECOM) das contas a receber de clientes. Portanto, é de todo recomendável adoptar uma política de endividamento e de gestão de cobranças mais ajustada para fazer face ao risco de liquidez.

Não obstante à essa situação, as duas empresas tiveram uma performance económica considerável, traduzida pelo crescimento do EBIT em cerca de 170% na ANGOLA TELECOM e de 80% na UNITEL, contribuindo para uma rentabilidade económica de 1,48% e 4,76%, respectivamente,

Fonte: Análise José Bucassa, com base nos relatórios e contas das empresas

Para efeitos de benchmarking, no período em análise, verifica-se que no mercado de telecomunicações português a VODAFONE (4,7 milhões de subscritores de telefonia móvel) alcançou uma rentabilidade económica de 7,5%, enquanto a NOS (5,7 milhões de subscritores de telefonia móvel) obteve cerca de 7,2%.

Notas adicionais

No volume de negócio da Angola Telecom não foram considerados os subsídios ao investimento, contabilizado como “Outros proveitos operacionais”, por serem proveitos não orgânicos, ou seja, são consequência de procedimento contabilístico e não propriamente das operações do dia-a-dia do negócio como são as vendas e os serviços prestados.
Fundo de Maneio na óptica da liquidez = Activo Corrente – Passivo Corrente
Dívida Líquida = Passivo (por extensão, considerou-se o passivo ajustado integrando o curto e M/L prazo) - Disponibilidade
Rentabilidade económica = EBIT / Activo
Para informação complementar, recomenda-se a consulta dos relatórios das empresas.