Que tipo de Kero se pode esperar com esta nova direcção?
Agora temos uma estratégia renovada, que coloca o cliente no centro. Vamos tentar perceber exactamente o que o cliente espera para hoje e amanhã. Temos um compromisso com a qualidade e a variedade. Ou seja, da segurança alimentar e também da inovação. O Kero é um destino para as famílias.
Certamente que a anunciada ‘viragem’ exige investimento. Quanto é que se pretende injectar?
Posso dizer que já foi investido mais de 5.2 bilhões de Kwanzas nos últimos dois anos e meio. O Kero, com a nova gestão, ainda tem um contrato para muitos anos de exploração da marca. De momento estamos a seguir um plano que traçamos em conjunto com a nova equipa de direcção.
Quando é que o consumidor nacional começará a sentir os efeitos dessa transformação?
Penso que são etapas, mas hoje ele já consegue sentir. Hoje ele consegue sentir de uma forma que, quando entra para uma loja Kero, observa prateleiras muito cheias e uma área de fresco brutal. Mas também já consegue ver uma zona específica dedicada para crianças, uma zona de restauração para famílias, uma zona de pisa e tem a possibilidade de conseguir um churrasco na grelha, coisa que muitos supermercados não oferecem. Além disso, tem o serviço Kero online, que oferece a possibilidade de o consumidor fazer compras a partir de casa.
Qual será o próximo passo?
O próximo passo vai ser ter lojas muito mais interactivas para o consumidor e mais zonas de lazer dentro do supermercado. Esse conceito vai evoluir ao longo do primeiro trimestre do ano que vem (2025).
O novo conceito do Kero valoriza mais produtos nacionais ou os internacionais?
Um hipermercado tem 6.500 metros quadrados, que são espaços grandes, com 22.000 referências de produtos locais e internacionais. Mas o Kero hoje em dia está com 65% de produtos nacionais.
Quais são os produtos que constam desta lista?
Se falarmos de peixe, por exemplo, a participação é de 98%, as frutas e legumes é de 90%, a carne é de 100%. Desde o início, o Kero sempre teve um compromisso grande e forte com a produção local e com os produtores locais. Sabe que o grupo Anseba, gestor do Kero, acabou de firmar uma parceria estratégica com um grupo local para refinar e transformar produtos como óleo, feijão e fuba. Isso quer dizer que tudo vem da produção nacional. Então, toda essa parceria que estamos a fazer, incluindo a matéria-prima, vai ter um impacto grande, porque a cadeia toda vai ser de produção e transformação feita em Angola.
Já agora, qual é a zona do País com maior participação nestes 65% de produtos nacionais disponíveis no Kero?
Não posso focar numa só área, porque localmente trabalhamos com 350 fornecedores. Quando estamos com 350 parceiros locais, claro que a maioria deles vem de diferentes zonas. Então, isso vai depender muito do tipo de artigo que temos. Mas temos uma grande abrangência, porque temos também uma cadeia logística que nos permite trazer mercadorias das demais províncias.
Esta cadeia logística enfrenta dificuldades no processo de escoamento de produtos?
Fala de infraestrutura rodoviária?
Exactamente…
Claro que leva um bocadinho de mais tempo para chegar a determinadas zonas. Nós temos lojas em Lubango, Benguela, Lobito e no Huambo. Então, para chegar a algumas zonas nessas cidades, que são grandes, ainda existem troços rodoviários que necessitam de algum cuidado. Então, temos que adaptar também o tempo de descanso dos nossos motoristas, para ter a certeza de que ficam atentos e conseguem abastecer as nossas lojas da melhor forma.
Isso tem implicação no custo?
Sim. Ou seja, não vou dizer que não. O tempo é dinheiro. Então, quanto mais tempo leva para abastecer uma loja, mais custa. Mas temos uma tendência de não impactar isso no preço do produto. É a margem da empresa que tem que assumir esse diferencial no momento.
Pode explicar melhor?
É que, junto dos parceiros, o Kero tem um compromisso de não aumentar o preço. Primeiro, acompanhar sempre o mercado; segundo, não aumentar o preço de uma forma ad-hoc. Quando o fornecedor aumenta e actualiza a tabela de preço, o Kero vai actualizar o preço. Mas o Kero não vai tirar proveito dessas situações. Quer dizer que quando uma empresa tem estrutura, tem custos fixos. Então, nós temos que pagar os custos fixos, para poder pagar as nossas equipas, a infraestrutura, etc. Então, para isso, é claro que uma empresa funciona com uma margem. Mas nós não vamos inflacionar a margem, elas vão sempre reduzindo, para conseguir tentar ter um preço competitivo para o consumidor final. Repito: Nós não aproveitamos das situações de inflação para aumentar o preço. Os preços (no Kero) nunca vão acompanhar a taxa de inflação.
Quanto aos importados (pelo menos 35%), quais são os principais produtos?
Por exemplo, estamos na altura do Natal e existem artigos de decoração que não são produzidos em Angola. Devemos estar sempre em linha com a necessidade do consumidor. ‘Cliente quer, cliente manda’. sso nunca foi tão real, tão actual. O cliente também quer algumas marcas internacionais, e nós temos uma parceria exclusiva com a marca Continente, que abastece a nossa loja com 2.500 referências.
Mas existem produtos que mesmo havendo localmente o Kero importa?
Tentamos sempre recorrer ao mercado local. Claro que nós devemos importar, quando não tem para o nosso consumidor, que tem de ter alguma consistência na gama a encontrar nas nossas lojas. Quando sabemos que o mercado local vai ser insuficiente, vai ter alguma carência, devemos recorrer à importação.
A pergunta é feita a olhar para o visível crescimento da população
Acho que uma coisa, algo bem feito cá em Angola, é o incentivo à produção nacional, o fomento à indústria e à produção local. Acho que é uma das grandes forças do País, uma grande aposta que foi feita nos últimos anos e que, na nossa opinião, está a dar certo. Claro que existe, às vezes, alguma inconsistência que devemos colmatar, mas, para médio e longo prazo, acho que é a estratégia e o caminho certo. O Kero já escoou das nossas próprias indústrias, em 2024, mais de 3 milhões de unidades. Angola vai ser, na minha opinião, um dos primeiros países da África Subsaariana a ser autossuficiente.
Está a dizer que é só uma questão de tempo?
Sim, é só uma questão de tempo.
Para terminar, que implicação tem a actual pauta aduaneira no volume de importação do Kero?
Não é a primeira actualização. Que seja a actualização cambial ou da pauta aduaneira, não é a primeira e no mercado onde estamos inseridos devemos ter essa agilidade de nos adaptar. Então, para o Kero, como os demais operadores, acho que agora, isso já entrou na rotina de funcionamento. O que esperamos sempre é tentar mitigar ao máximo o impacto que vai ter para o nosso consumidor final.