Tenho conversado com imensa gente, pessoas com investimentos feitos na agricultura, pescas e indústria, sinto em todas elas uma enorme apreensão e, sobretudo, um vazio relativamente a uma estratégia de facto que possa alterar a situação. Estão a braços com elevados custos de produção, de salários, impostos, na aquisição de equipamentos e sua manutenção e na colocação, no mercado, da sua produção. Estão apreensivos e desmoralizados.
Esta nova crise, consequência de passados reafirmados (economia sustentada no preço da exportação do petróleo com um peso de 95% no PIB), trouxe também um pouco mais do mesmo. Mudanças de ministros, promessas a quente de medidas que eventualmente possam mudar a situação, de novos planos e legislação, nada que ciclicamente não tenhamos já visto e vivido. Os discursos parecem retirados dos anteriores. O lastro de pobreza está a aumentar significativamente, e o poder vai ficando cada vez mais na rua.
Continuamos com ausência de reformas sérias que ponham termo ao despesismo desmesurado que vai grassando na aposta de projectos não-reprodutivos e alguns, muito caros, sem utilidade imediata. Enumerá-los já não seria novidade e, provavelmente, não acrescentaria valor a este apontamento. Todos sabemos quais são e que vão exaurindo as nossas parcas reservas financeiras. Precisamos desse dinheiro para reformar o ensino, devolvê-lo à esfera do Estado, conferindo-lhe qualidade e democraticidade, responsabilidade de que o Estado se tem abstido. Precisamos de reformar o sistema nacional de saúde, implementando uma verdadeira rede de cuidados primários a nível comunal, municipal e provincial, formando quadros de bom nível e criando estruturas adequadas; incentivar a produção agrícola dando garantia aos produtores que a sua produção será adquirida pelo Estado a preços justos. Reformar o papel da REA e convertê-la numa bolsa para o desenvolvimento e não numa trading, papel a que foi votada. Apoiar os produtores nos insumos e nas novas tecnologias de produção. Criar a base para a Indústria de Transformação. Maior inserção nesse esforço da banca e dos seguros e garantir uma política fiscal com equidade que favoreça o crescimento das empresas e não a sua asfixia. Rever o processo de liquidação dos impostos. Pagar após recebimento e não por antecipação. O Estado tem de ser reformado. Emagrecer nos custos e desenvolver-se em competência. Pôr-se termo às adjudicações por ajuste directo, auto-estrada para a corrupção. Deve-se também fazer a reforma da Justiça. O quadro do investimento estrangeiro, recentemente revelado e que mostra a sua inexistência desde 2015, é reflexo da situação, em grande medida, nesse sector. Angola não é um país bom nem seguro para se investir, independentemente das afirmações dos nossos responsáveis. Não basta dizer que damos garantias, o sistema tem de o demonstrar.
Resumindo, a Esperança tem sido a Mulher com que nos deitamos todos os dias, que dorme na mesma cama e invade os nossos sonhos e angústias, e é aquela que as nossas companheiras vão tolerando, numa relação bígama, também elas à espera que daí resulte algo bom, dessa relação conjugal esquisita; Liderança que nos oriente, conduza e motive!
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Leadership needed!
The sharp devaluation of the Kwanza, which started in June, combined with the sudden rise in fuel prices, has once again thrown us into a world of uncertainty and despair that seemed to be fading away after a long period of economic and financial recession. I have talked to many people, people with investments in agriculture, fisheries, and industry. I feel in all of them a huge apprehension and above all a void regarding a strategy that can actually change the situation. They are grappling with high production costs, salaries, taxes, equipment acquisition and maintenance, and the placement of their production in the market. They are apprehensive and demoralized.
This new crisis, a consequence of past reaffirmed policies (an economy sustained by the export price of oil, which accounts for 95% of GDP), has brought more of the same. Changes in ministers, new promises of measures that may eventually change the situation, new plans and legislation, nothing that we haven't already seen and lived through cyclically. The speeches seem to be taken from the previous ones. The burden of poverty is increasing significantly, and power is becoming more and more in the streets.
We continue to lack serious reforms that put an end to the excessive spending that is rampant in the investment of non-reproductive projects and some that are very expensive, without immediate utility. Enumerating them would no longer be news and probably would not add value to this note. We all know what they are and that they are depleting our meager financial reserves. We need that money to reform Education, return it to the sphere of the State, giving it quality and democracy, a responsibility that the State has abstained from. We need to reform the national health system, implementing a true network of primary care at the communal, municipal and provincial levels, training high-level staff and creating appropriate structures; encourage agricultural production by guaranteeing producers that their production will be acquired by the State at fair prices. Reform the role of the REA and turn it into a stock exchange for development and not a trading, a role to which it was condemned. Support producers in inputs and new production technologies. Create the basis for the transformation industry. Greater involvement of banks and insurers in this effort and ensure a tax policy with equity that favors the growth of companies and not their suffocation. Review the tax liquidation process. Pay after receipt and not in advance. The State must be reformed. Slim down costs and develop competence. Put an end to direct adjustment awards, an expressway to corruption. Justice reform must also be carried out. The framework of foreign investment, recently revealed and showing its non-existence since 2015, is a reflection of the situation, to a large extent, in that sector. Angola is not a good or safe country to invest in, regardless of the statements of our leaders. It is not enough to say that we provide guarantees, the system must demonstrate it.
In summary, Hope has been the Woman we sleep with every day, who sleeps in the same bed and invades our dreams and anxieties, and is the one our partners tolerate, in a bigamous relationship, waiting for something good to come out of that weird conjugal relationship; Leadership to guide, lead and motivate us!
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