Em Janeiro deste ano, Sebastião Gaspar Martins, CEO da Sonangol, entrou publicamente no comboio do rumor mais quente no mercado bancário português: o de uma eventual fusão entre o Millennium bcp (BCP), no qual a petrolífera angolana tem uma posição de 19,49%, e o Novo Banco. Semanas antes, tinha sido o governador do Banco de Portugal a admitir que as “sinergias desse emparelhamento seriam benéficas”, um emparelhamento que vai ganhando tracção noticiosa nos media portugueses. Um dos motores das movimentações será o ex-banqueiro do Lloyd’s Bank e do Credit Suisse, António Horta Osório, que, segundo fontes do mercado financeiro, anda a sondar investidores para montar uma operação de compra do Novo Banco e de fusão posterior com o Millennium (algo que o gestor, que vive desde o ano passado em ‘part-time’ em Lisboa, negou à revista “Sábado”).
O CEO da Sonangol, em entrevista à agência Reuters, pronunciou-se abertamente sobre a hipótese da fusão do Millennium, afirmando que essa deve acontecer “com outra instituição que promova o aumento do valor do banco e melhore as suas cotações na bolsa” – um sinal de que, sejam quais forem as movimentações em curso, a petrolífera angolana quer ter um papel. A Sonangol, que está num processo de venda dos activos não-petrolíferos, tem sinalizado que a sua participação no Millennium poderá ser vendida caso surja uma oportunidade (Essa predisposição, juntamente com o facto de o outro accionista de referência do Millennium ser a sobreendividada Fosun e, ainda, o facto de a regulação bancária europeia não ver com bons olhos as participações quer da China, quer de Angola, preocupa a administração do banco).
Nos bastidores do mercado financeiro português, vê-se como cenário mais provável a saída da Sonangol do banco, o que, se acontecer, porá um quase ponto final na era dos grandes investimentos angolanos na banca em Portugal, liderada quer pela petrolífera (na altura da gestão de Manuel Vicente), quer por Isabel dos Santos. O sector financeiro foi o epicentro destes investimentos – e mais do que qualquer outro sector reflecte, hoje, a reversão da ofensiva investidora angolana.
No seu auge, após a enorme crise económica portuguesa entre 2011 e 2014, o capital de origem angolana chegou a ter influência directa ou indirecta sobre o equivalente a quase um terço dos activos sob gestão na banca em Portugal, estando representado em várias instituições bancárias: no Millennium (Sonangol) e no BPI (Isabel dos Santos), dois bancos sistemicamente relevantes; no Euro BIC (Isabel dos Santos e Fernando Teles), no BIG (o general “Kopelipa”), e numa série de outros bancos angolanos mais pequenos (o BNI Europa, o BAI, o Atlântico e o BANC) que abriram portas em Portugal. Ao todo, desta extensa lista poderá restar em breve muito pouco – vamos por partes.
O grande recuo na banca
Isabel dos Santos saiu do BPI em 2017, numa primeira consequência da desconfiança aberta dos reguladores financeiros europeus – o Banco Central Europeu e o seu “braço” português, o Banco de Portugal – sobre os accionistas oriundos de Angola. A saída ficou a dever-se, na sua origem, a uma imposição regulatória europeia sobre o BPI (a redução da exposição ao BFA, em Angola), que ampliou mais tarde a vontade dos accionistas catalães do La Caixa de reduzirem o envolvimento directo com Angola. Na altura, por entre negociações tensas que ainda hoje causam impacto na política portuguesa (ver caixa), Isabel dos Santos vendeu a participação por mais de 300 milhões de euros, encaixando uma mais-valia de 50 milhões, e ficou com a maioria do BFA (instituição que continua a gerar lucros avultados para o BPI).
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Angolan business in Portugal: the great step back
The large Angolan investments in strategic Portuguese sectors have been, with exceptions, in complete reversal. Of the strong recent influence on banking, very little remains, especially if Sonangol does actually exit Millennium as expected.
In January of this year, Sebastião Gaspar Martins, CEO of Sonangol, publicly joined the bandwagon of the hottest rumor in the Portuguese banking market: that of a possible merger between Millennium bcp (BCP), in which the Angolan oil company has a 19.49% stake, and Novo Banco. Weeks earlier, the governor of Banco de Portugal had admitted that the “synergies of this pairing would be beneficial,” a pairing that is gaining traction in the Portuguese media. One of the driving forces behind the moves will be the former Lloyd's Bank and Credit Suisse banker, António Horta Osório, who, according to sources in the financial market, has been sounding out investors to set up an operation to buy Novo Banco and subsequently merge it with Millennium (something that the manager, who has been living part-time in Lisbon since last year, denied to Sábado magazine).
The CEO of Sonangol, in an interview with Reuters, spoke openly about the hypothesis of the Millennium merger, stating that this should happen "with another institution that promotes the increase in the value of the bank and improves its position on the stock exchange,” a sign that, whatever the ongoing moves, the Angolan oil company wants to play a role. Sonangol, which is in the process of selling its non-oil assets, has signaled that its stake in Millennium could be sold if an opportunity arises. (This predisposition, together with the fact that the other shareholder of Millennium is the over-indebted Fosun, and also the fact that the European banking regulation does not look favorably on the holdings of either China or Angola, concerns the bank’s management.)
Behind the scenes of the Portuguese financial market, the most likely scenario is Sonangol’s departure from the bank, which, if it happens, will almost put an end to the era of large Angolan banking investments in Portugal, led either by the oil company (managed at the time by Manuel Vicente), or by Isabel dos Santos. The financial sector was the epicenter of these investments, and today, more than any other sector, it reflects the reversal of the Angolan investment offensive.
At its height, after the enormous Portuguese economic crisis between 2011 and 2014, capital of Angolan origin had direct or indirect influence on the equivalent of almost a third of the assets under management in Portuguese banking, and was represented in several banking institutions: at Millennium (Sonangol) and at BPI (Isabel dos Santos), two systemically relevant banks; at Euro BIC (Isabel dos Santos and Fernando Teles), at BIG (general “Kopelipa”), and at a series of other smaller Angolan banks (BNI Europa, BAI, Atlântico and BANC) that opened doors in Portugal. In all, from this extensive list there may soon be very little left; let's find out why, step by step.
The big pullback in banking
Isabel dos Santos left BPI in 2017, the first consequence of the open distrust of European financial regulators – the European Central Bank and its Portuguese “branch,” the Bank of Portugal – over shareholders from Angola. The departure was due, in its origin, to a European regulatory imposition on BPI (the reduction of exposure to BFA, in Angola), which later increased the will of Catalan shareholders of La Caixa to reduce direct involvement with Angola. At the time, amid tense negotiations that still have an impact on Portuguese politics today (see box), Isabel dos Santos sold her stake for more than 300 million euros, bringing in a capital gain of 50 million, and took the majority of BFA (an institution that continues to generate substantial profits for BPI).
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