Cerca do ano 2000, dois cientistas identificaram um padrão: quanto menor o conhecimento sobre um determinado tema, mais as pessoas acham que o dominam, sobrestimando o seu conhecimento. Isso não acontece quando as pessoas são totalmente ignorantes, mas, sim, quando começam a saber alguma coisa de qualquer coisa e começam a achar que já são peritos. Daí se dizer que quando alguém tem muitas certezas é porque sabe pouco.
Conhecido como efeito Dunning-Kruger, este padrão também ajuda a explicar que quanto mais conhecimento as pessoas adquirem sobre um dado tema, mais dúvidas têm e acabam por subestimar as suas competências. Já dizia Sócrates, o patrono da Filosofia, “só sei que nada sei”.
Conhecimento efectivo versus conhecimento percepcionado, eis o cerne da questão: os que sabem pouco acham que sabem muito e os que sabem muito acham que sabem pouco. A Internet exacerbou esse efeito. O Dr. Google transforma qualquer um num perito, e isso é perigoso, porque as redes sociais levam à repetição exaustiva de soundbites, rejeitando o conhecimento estabelecido, porque as opiniões autodidactas passaram a valer tanto como as que foram alvo de estudo sistematizado. A Web 2.0 deu a possibilidade de qualquer um criar conteúdos que não precisam de ser validados e que podem ter grande impacto, dada a facilidade de propagação das redes sociais. Vive-se, assim, um tempo em que deixámos de estar desinformados, para passarmos a estar mal-informados.
Umberto Eco chegou a afirmar que “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis que antes só falavam em bares, sem prejudicar a sociedade”.
Em conclusão, se aprender pouco é perigoso, porque a sobrestimação do conhecimento pode levar a decisões desastrosas, analisar em demasia um assunto também não é bom, porque a subestimação do conhecimento pode levar à inacção. O decisor consciencioso é o que sabe identificar convenientemente os vieses do conhecimento.
The Biases of Knowledge
Learning too little is dangerous, said a poet over 200 years ago. But analyzing too much may also be inefficient.
Around the year 2000, two scientists identified a pattern: the less knowledge people have about a certain subject, the more they think they master it, leading to an overestimation of their knowledge. This phenomenon occurs not when people are completely ignorant, but when they start to acquire some knowledge and mistakenly believe they have become experts. Hence, the saying that when someone is overly certain, it is an indication that they actually know very little.
Known as the Dunning-Kruger effect, this pattern also helps explain that the more knowledge people acquire about a given subject, the more doubts they have; and they end up underestimating their own abilities. As Socrates, the patron of Philosophy, used to say, "I only know that I know nothing."
The crux of the matter lies in the difference between effective knowledge and perceived knowledge: those who know little often believe they know a lot, while those who are knowledgeable tend to underestimate their own knowledge. The Internet has exacerbated this phenomenon. With the help of search engines like Dr. Google, anyone can appear to be an expert. However, this can be dangerous because social networks often lead to the repetitive spread of soundbites, disregarding established knowledge. Self-taught opinions are now valued as much as those that have undergone systematic study. Web 2.0 has made it possible for anyone to create and share content without the need for validation, leading to a significant impact due to the ease of dissemination through social networks. Consequently, we find ourselves in a time where we have transitioned from being uninformed to being misinformed.
Umberto Eco once stated that "social networks have given voice to a legion of imbeciles who used to only speak in bars, without harming society."
In conclusion, if learning too little is dangerous because the overestimation of knowledge can lead to disastrous decisions, analyzing a subject too much is also not good because underestimating knowledge can lead to inaction. The conscientious decision-maker is the one who knows how to properly identify the biases of knowledge.