3
1
PATROCINADO

“Quem ama também trai”?

Moniz Sebastião
5/10/2024
1
2
Foto:
DR

Normas sociais e culturais moldam a percepção da infidelidade. Em algumas culturas, a traição pode ser mais tolerada ou até esperada.

A infidelidade conjugal é um fenómeno complexo que desafia explicações simplistas. Embora o amor e o carácter sejam cruciais na dinâmica dos relacionamentos, afirmar que "quem ama não trai" pode ser falacioso à luz das teorias da psicologia social.

Diversos estudos conduzidos na psicologia e nas ciências sociais sugerem uma combinação de factores emocionais, psicológicos e sociais que explicam (mas não defendem) a prática do fenómeno. Helen Fisher, em "Why We Love", aborda os fundamentos biológicos e químicos do amor que influenciam a infidelidade; Esther Perel, em "Mating in Captivity" e "The State of Affairs", discute a tensão entre amor e desejo, e a busca por novidade; Shirley Glass, em "Not 'Just Friends'", destaca como amizades íntimas podem levar à infidelidade; David Buss, em "The Evolution of Desire", investiga as estratégias de acasalamento humano; John Gottman, em "What Makes Love Last?", analisa as causas e consequências da infidelidade com base em extensa pesquisa; Pepper Schwartz e Philip Blumstein, em "American Couples", examinam a dinâmica das relações e a influência de factores sociais; e Terri Orbuch, em "Finding Love Again", discute as razões emocionais e psicológicas para a infidelidade. 

Para muitos homens, a infidelidade surge do desejo de variedade sexual e validação do ego. Situações de oportunidade, como viagens de trabalho, aumentam a probabilidade de traição. 

Já as mulheres tendem a trair por uma busca de conexão emocional e satisfação relacional, frequentemente motivadas pela carência emocional ou problemas de comunicação no relacionamento.

O carácter influencia fortemente a propensão para a infidelidade. Indivíduos com valores morais sólidos e autocontrolo tendem a resistir melhor à tentação. O amor, por sua vez, promove a fidelidade através da satisfação emocional e do compromisso. No entanto, ambos podem ser insuficientes diante de pressões externas e internas.

A realidade das relações humanas mostra que o amor e a fidelidade nem sempre coexistem de forma linear. Alguém pode amar profundamente o seu parceiro e ainda assim trair devido a insatisfações, impulsividade ou influências externas. Carências emocionais, baixa auto-estima e questões psicológicas como a depressão também desempenham um papel significativo.

Normas sociais e culturais moldam a percepção da infidelidade. Em algumas culturas, a traição pode ser mais tolerada ou até esperada, influenciando comportamentos independentemente do amor existente. Além disso, a falta de comunicação eficaz e ressentimentos acumulados podem levar à infidelidade como uma forma de escape ou vingança.

Portanto, a infidelidade conjugal é influenciada por uma rede intrincada de factores emocionais, psicológicos e sociais. 

A afirmação "quem ama não trai" simplifica excessivamente uma realidade complexa. 

Compreender a infidelidade requer reconhecer a multidimensionalidade das relações humanas e os diversos factores que as moldam.