Para José Bettencourt Angola precisa aumentar os actuais níveis de produção de alimentos. “Nós teremos de alimentar essa gente”, afirmou, alertando que, a nível global, os stocks de alimentos estão abaixo do recomendável, prevendo assim uma alta de preços no futuro.
Angola dispõe de 35 milhões de hectares de terra arável, porém, apenas 5% é área cultivada, maioritariamente por camponeses familiares. Neste sentido, os actuais índices de produção de cereais continuam deficitários, daí que o país importe a quase totalidade do que consome.
“Se nós quisermos substituir as importações temos de aumentar as áreas de produção, pelo menos em 1.400.000 hectares. E precisamos de ter, para que a produção seja razoável, à volta de 500 mil toneladas de fertilizantes e cerca de 100.000 toneladas de azotados”, defendeu o agrónomo José Bettencourt.
No caso do milho, o défice nacional é de quase dois milhões de toneladas, ao passo que 100% do trigo consumido no país é importado. “Infelizmente, importamos farinha de trigo quando poderíamos importar grãos, o que nos permitiria valorizar a produção nacional, aproveitando os derivados do trigo para ração e criando mais empregos”, aponta ainda José Bettencourt, que informou que o défice de arroz corresponde à quase totalidade do consumo interno.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), as perspectivas para a produção mundial de cereais melhoraram desde Maio. Porém, a produção prevista para este ano ainda poderá ficar aquém do nível alcançado 2017 e das necessidades de consumo previstas para 2018/19.
Num comunicado divulgado no seu portal, a FAO estima que os stocks mundiais de cereais venham a baixar, uma queda impulsionada principalmente pelo milho, tendo em conta que as reservas de trigo e arroz tendem a aumentar. Em 2018, prevê-se uma produção mundial de cereais de 2.610 milhões de toneladas, três milhões de toneladas acima da projecção preliminar feita em Maio. No entanto, a este nível, a produção global ainda deverá cair 40,6 milhões de toneladas (1,5%) anualmente.
Já a produção mundial de trigo está prevista em 754,1milhões de toneladas, após uma revisão em alta de 7,5 milhões de toneladas em Junho. O aumento está principalmente relacionado com a Argentina, bem como com o Canadá e os Estados Unidos, onde melhores condições climáticas impulsionaram as perspectivas da FAO. Estimativas oficiais recentes da Índia também apontam para uma produção acima do esperado, impulsionando ainda mais as perspectivas de produção global de trigo.
A produção mundial de milho em 2018, por sua vez, foi ligeiramente reduzida para 1.046 milhões de toneladas, com grandes revisões para baixo na China, reflectindo as contracções da área à medida que os agricultores mudam para culturas mais lucrativas, e no Brasil, onde a continuidade do tempo seco está prevista para conter plantações e colheitas da segunda safra.
Em Maio, a projecção da Organização das Nações Unidades para a Alimentação e Agricultura apontava um aumento de 0,7 milhões de toneladas na produção mundial de arroz, para 511,3 milhões de toneladas, 1,3% acima da alta histórica de 2017. A revisão, esclarece a FAO no seu comunicado, reflecte principalmente as melhores perspectivas para a Índia, consistentes com as estimativas oficiais mais altas para a produção do país em 2017.
Leia mais na edição de Julho de 2018.
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