É considerado o ponto mais alto da diplomacia de João Lourenço no seu percurso governativo de sete anos. No início deste mês, Joe Biden, já em fim de mandato como Presidente dos Estados Unidos, pisou o solo angolano para cumprir uma jornada focada nos interesses americanos no Corredor do Lobito.
A visita de Estado de três dias foi marcada por um encontro com o Presidente angolano, na Cidade Alta; visita ao Museu da Escravatura, em Luanda, e deslocação à província de Benguela, onde testemunhou as instalações agregadas ao Corredor do Lobito.
No encontro com o homólogo angolano, em Luanda, o Chefe de Estado norte-americano sublinhou que a aposta estratégica dos EUA no continente demonstra que “o futuro do mundo está aqui”, em África: “O mundo é em África. Não é uma hipérbole. Vai ser, em breve, (...) o maior continente do mundo”, disse o estadista norte-americano, destacando o crescimento demográfico africano.
Joe Biden realçou as oportunidades para o fomento do intercâmbio entre os dois países e recordou os esforços do seu elenco governativo para aproximar os americanos aos angolanos.
Disse que, no percurso de várias décadas da relação diplomática entre Angola e o seu país, os Estados Unidos já investiram milhares de biliões de dólares em Angola.
“Devo lembrar que a segurança alimentar sempre foi uma preocupação do meu Governo em África e, com os angolanos, não seria diferente”, realçou o Presidente norte-americano, desejando que os angolanos “sejam bem-sucedidos” na relação com a maior potencial económica mundial.
“Isto não é um esforço egoísta e altruísta. Se vocês forem bem-sucedidos, nós também o seremos. Eu antecipo vivamente um relacionamento sólido e duradouro”, declarou.
Abertura de oportunidades de negócios angolanos nos EUA
O Presidente angolano, João Lourenço, reafirmou, no encontro com Joe Biden, o desejo de incremento das relações comerciais entre Angola e Estados Unidos, particularmente na abertura do mercado norte-americano para negócios angolanos.
“A partir de hoje, pretendemos trabalhar juntos na atracção do investimento directo americano para Angola, na abertura de oportunidades de comércio e de negócios de investidores angolanos no mercado americano”, disse o Chefe de Estado angolano.
Em relação ao sentido das trocas comerciais entre os dois países, Angola exporta essencialmente petróleo para os Estados Unidos e exporta da nação que detém a maior economia mundial diversos bens e serviços.
Os Estados Unidos são tidos como a maior potência militar mundial e, atento a este poderio, o Presidente de Angola, João Lourenço, manifestou o desejo de ver implementada uma cooperação no sector da defesa e segurança entre os dois países.
No diálogo com Joe Biden, João Lourenço ambicionou que esta cooperação permita o acesso de angolanos às escolas e academias militares norte-americanas.
Perspectivou que este intercâmbio se estenda para áreas de treinos militares em Angola e para a realização de mais exercícios militares conjuntos.
“Cooperar mais nos programas de segurança marítima para a protecção do Golfo da Guiné e do Atlântico Sul, assim como no programa de reequipamento e modernização das Forças Armadas Angolanas”, ansiou o estadista angolano.
“Maior investimento ferroviário dos EUA fora da América”
Joe Biden discursou, no dia 03 de Dezembro, no Museu da Escravatura, na capital angolana, e, numa intervenção vivamente aplaudida, afirmou que a aposta do seu país no Corredor do Lobito é o maior investimento ferroviário norte-americano fora do seu continente.
“Estamos a construir linhas ferroviárias de Angola, no Porto de Lobito; na Zâmbia e na RDC, e, finalmente, até ao Oceano Atlântico — do Atlântico ao Oceano Índico. Será a primeira ferrovia transcontinental em África e o maior investimento ferroviário dos Estados Unidos fora da América”, disse o Presidente norte-americano.
Referiu que o projecto ferroviário não apenas criará empregos significativos, mas, também, permitirá que países envolvidos no corredor “maximizem os seus próprios recursos domésticos em benefício” dos seus povos, vendam minerais críticos que impulsionam a transformação energética global.
“Uma carga que antes levava mais de 45 dias agora levará 45 horas. Isso é uma revolução! Aumenta os lucros, aumenta as oportunidades. O Corredor do Lobito representa a maneira certa de investir em parceria total com um país e o seu povo”, declarou.
Joe Biden explicou que, como parte do projecto do Corredor do Lobito, os norte-americanos instalarão energia limpa suficiente para abastecer centenas de milhares de lares e expandirão a Internet de alta velocidade para milhões de angolanos.
O Presidente norte-americano observou, na ocasião, que o acesso à internet é “tão importante hoje quanto a electricidade foi para gerações anteriores”.
Avançou que os Estados Unidos estão, igualmente, a investir na agricultura e segurança alimentar, atendendo “às necessidades de países sem capacidade” agrícola e expandindo as oportunidades para aqueles que cultivam.
“Estamos a conectar agricultores ao longo do Corredor do Lobito a novos mercados, ampliando as oportunidades e a prosperidade”, afirmou o primeiro Presidente norte-americano a visitar Angola.
Já em Benguela, Joe Biden esteve presente numa cimeira que contou com a participação dos Presidentes de Angola, Congo Democrático, Zâmbia e Vice-Presidente da Tanzânia, consagrada por inteiro ao Corredor do Lobito, a estratégica plataforma logística projectada para ligar, por caminho de ferro, a costa angolana (Oceano Atlântico) ao Oceano Índico.
Contrabalançar a influência chinesa
A propósito da primeira e única visita de Estado de Joe Biden ao continente africano, a imprensa marroquina associou a deslocação à resposta norte-americana à crescente afirmação chinesa no continente, mas deu, também, palpites sobre a aproximação da presidência de João Lourenço aos norte-americanos.
Para o portal marroquino Le360, a visita de Joe Biden a Angola, que aconteceu entre os dias 2 e 4 de Dezembro, explica-se pela vontade de Washington de assegurar a rota de matérias-primas estratégicas na África Central.
A escolha de Angola mostra a crescente influência deste país petrolífero, beneficiário de um dos maiores investimentos americanos em infra-estruturas no continente, visando contrabalançar a influência chinesa, escreveu o site consultado pela revista Economia & Mercado.
Em Angola, segundo o extenso texto, o Presidente norte-americano - em fim de mandato - visitaria este projecto futuro: a reabilitação de uma linha férrea que liga o porto angolano do Lobito à República Democrática do Congo (RDC) e à Zâmbia.
Os 1.300 km de carris deste Corredor do Lobito transportarão recursos cruciais para a economia mundial – cobre e cobalto em particular – para a costa atlântica destes dois países, ricos em minerais mas sem litoral.