A eleição do próximo líder da Igreja Católica no mundo é um tema inevitável após o anúncio da morte, nesta segunda-feira, 21, do Papa Francisco, vítima de derrame cerebral, coma e paragem cardiorrespiratória irreversível. A eleição pela primeira vez de um papa oriundo de África está sobre a mesa… das cogitações. A propósito do tema, Dom Manuel Imbamba, presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), prefere “deixar que o Espírito Santo se exprima”.
“Isso não podemos prever (...). No conclave, estão representados todos os povos, aquele que os cardeais acharem que corresponde aos desafios do mundo actual, aos desafios culturais actuais, aos desafios da evangelização actual, sobre aquele, depois, cairá a predilecção dos nossos cardeais”, disse, à TPA, o também Arcebispo da Arquidiocese da Lunda-Sul.

Ainda sem data marcada, o Conclave que irá eleger o substituto do Papa Francisco contará com a presença de 18 cardeais africanos (13,3% do total), o que significa um acréscimo de sete sacerdotes face aos 11 que votaram em 2013, por altura da ascensão de Jorge Bergoglio a líder da Igreja Católica.
Sem a presença de Angola, os países africanos representados na eleição serão: Costa do Marfim, com dois cardeais; e, cada um com um, a Argélia, o Burkina Faso, Cabo Verde, República Centro-Africana, RDCongo, Etiópia, Gana, Guiné-Conacri, Quénia, Madagáscar, Marrocos, Nigéria, Ruanda, África do Sul, Sudão do Sul e Tanzânia.
Nas cogitações que colocam nomes de cardeais africanos nas contas da sucessão de Francisco saltam à vista três rostos, estando entre os mais citados o ganês Peter Turkson, ex-prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, de 76 anos, conhecido pela sua actuação pela justiça social e questões ambientais.
Integram ainda as cogitações os cardeais: Fridolin Ambongo (65 anos), da República Democrática do Congo, Arcebispo de Kinshasa, com actuação em paz e estabilidade política; e o nigeriano de 81 anos, John Onaiyekan, Arcebispo de Abuja, conhecido pelo trabalho inter-religioso e ecuménico.
Apesar dos seus 84 anos (não há idade limite para a escolha do papa), o Cardeal Wilfrid Fox Napier (África do Sul) Arcebispo de Durban, defensor dos direitos humanos e da justiça social, entra, igualmente, para as contas da transição na liderança da Igreja Católica no mundo.

Aumento de cardeais, um dos legados de Francisco
Quando o cardeal Jorge Bergoglio foi eleito Papa no Conclave de 2013, estavam representados naquele ritual secreto 48 países, de seis continentes. Agora, há cardeais de 71 países e sete continentes, sublinha o Diário de Notícias.
De acordo com os dados oficiais do Vaticano, há 252 cardeais no colégio Cardinalício, sendo que 117 têm mais de 80 anos de idade e, por isso, não podem contribuir com o seu voto para a sucessão de Francisco.
Entre os restantes 135, há quatro cardeais portugueses, todos criados pelo Papa Francisco – o patriarca emérito de Lisboa, Manuel Clemente, o bispo emérito de Leiria-Fátima, António Marto, o prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação, José Tolentino Mendonça, e o bispo de Setúbal, Américo Aguiar –, mas o país mais representado neste órgão continua a ser a Itália, com 17 cardeais.
Como corolário das mudanças geográficas de Francisco, no Conclave, para além de 53 cardeais europeus, o continente Americano aparece agora dividido em três (em 2013 eram duas), surgindo a América Central como parceira geográfica da América do Norte e da América do Sul, o que firma em sete o número de continentes representados no Conclave.
A América do Norte terá 16 cardeais (11,9%), distribuídos pelo Canadá (quatro), México (dois) e Estados Unidos (dez), enquanto a América Central aparece representada por quatro países (3,0%), cada um com um cardeal eleitor – Cuba, Guatemala, Haiti e Nicarágua.
Entre estes três continentes, escreve o jornal português, a América do Sul é a mais representada no Conclave, com 17 cardeais entre os quatro da Argentina, os sete do Brasil e os cardeais únicos do Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai.
Ásia duplica número de cardeais
A Ásia também sobe para mais do dobro a representação no Conclave face a 2013. Há 12 anos, 10 cardeais asiáticos participaram no Conclave que elegeu o Papa Francisco. Agora, serão 23 (17,0%), distribuídos pela Índia, com quatro cardeais, Filipinas, com três, Japão, com dois, e, com um cada, China, Timor-Leste, Jerusalém (não sendo um país, tem um patriarcado próprio), Indonésia, Irão, Iraque, Coreia do Sul, Malásia, Mongólia, Myanmar, Paquistão, Singapura, Sri Lanka e Tailândia.
A definir o Conclave mais internacional de sempre, a Oceânia será representada por quatro cardeais, distribuídos entre os quatro países que compõem este continente: Austrália, Papua Nova-Guiné, Nova Zelândia e Tonga. Em 2013, a Oceânia, através do cardeal australiano George Pell, só tinha eleitor no ritual de sucessão de Bento XVI, noticia o Diário de Notícias.