O empresário Carlos Cunha denunciou, esta semana, em Luanda, aexistência de insubordinação a um dos actos (despacho) assinado pelo Presidente da República (PR) atinente à aquisição de estoques da produção nacional.
O também membro do Conselho Económico e Social (CES) do PR falava na V Conferência E&M sobre Agricultura, que debateu a agro-indústria, a Reserva Estratégica Alimentar e por que razão Angola continua a depender das importações.
Tecendo considerações durante na I mesa redonda que debateu o tema "Importação versus consumo interno", Carlos Cunha mostrou-se perplexo com o incumprimento de um despacho presidencial que considerou de "muito claro", e que, inclusive, estabelecia o preço de compra da produção, mas, que entanto, caiu em “saco roto”.
Incrédulo, o empresário diz que o Chefe do Estado orientou a compra do estoque inventariado, que para tal, percorreu-se o País para determinar quem, de facto, detinha o mesmo.
“Então o Presidente da República faz um despacho claro, a mandar adquirir os estoques que foram inventariados, nós percorremos o País a ver quem tinha estoque. Fez-se um acordo. O despacho do Presidente fixa o preço. E passado este tempo não se pagam às pessoas?", interrogou o empresário. “Este é um acto de desobediência ou não?", insistiu o homem de negócios que na sua perspectiva pretende-se criar um País a “duas velocidades”. “Ou queremos criar um país a duas velocidades? Queremos criar Cristianos Ronaldos a jogarem aqui dentro?, volta a indagar-se acrescentado que, “nós não podemos permitir isso!”.
Assista mais em https://www.youtube.com/watch?v=8me_FB5AHQw
Por isso, censurou, não tem dúvidas que os produtores quereuniram na altura 60 toneladas possam atingir este ano 20. “Os produtores que reuniram na altura 60 toneladas, se calhar este ano nem 20 vão fazer. Porquê serviu o despacho presidencial?”, questionou dirigindo-se a plateia. “Negociamos com o Palácio esta decisão, na prática ninguém cumpre?”, interrogou-se visivelmente indignado.
Para este empresário, não faz qualquer sentido defender o aumento da produção nacional quando se importa ao mesmo tempo. “Como é que vamos aumentar a produção com importação?”, sentenciou.
Política de incentivos Neste particular, o investidor entende que asinfra-estruturas, como por exemplo, estradas, barragens, energias, água, desmatação deveriam ter políticas de incentivos diferenciados. “Não deveria se financiar culturas e criar políticas de incentivos a um investimento de desmatação igual ao que se faz num investimento de culturas”, defendeu.
Mais adiante referiu que um investimento de uma barragem não deveria ter o juro e o mesmo período de reembolso de uma estrada.
Um exemplo do Vietname
Do Vietname, Carlos Canha “buscou” o exemplo da figura do “empresário o âncora” que desponta.
“Empresário o âncora”, explicou, é aquele que munido de pequenos recursos ajuda o fomento na sua região, tendo citado algumas áreas do País que os empresários se destacam no seu papel de fomento e apoio às comunidades locais, numa alusão a economia familiar.
O juro mais caro das empresas
O empresário considerou o défice de conhecimento como o juro mais caro para as empresas. “Nós temos um profundo défice de conhecimento. É o juro mais caro que nós pagamos nas empresas. É o desconhecimento”, notou sublinhado que se omitem no País dois pilares chave: a formação técnica – profissional e a investigação científica. “Sem formação não vamos fazer nada. Não há uma investigação científica credível no País”, desabafou, chamando atenção para a necessidade de se apostar mais no capital humano. “Parece-me que agora as 11 escolas que existiam do ensino técnico-profissional, andam numa mudança de tutela, não se percebe bem o que se está a passar”, frisou.
Mandioca, País não é auto-suficiente
No decurso da sua intervenção, Carlos Cunha desmistificou o que já era eventualmente um facto no País – a auto-suficiência da mandioca.
“Angola não é”, ripostou o empresário dirigindo-se ao director do Gabinete de Estudos, Planeamento e Estatística do Ministério da Agricultura e Florestas (Minagrif), um dos prelectores da I mesa redonda. “Eu mostro as estatísticas dos últimos anos baseados em dados de importação da Administração Geral Tributária (AGT)”, desafiou, clarificando que há apenas pequenas importações de mandioca. “E posso dizer quem importa e a quem se destina”, afirmou exemplificando que a fábrica de cartões importa fuba de mandioca. “Sabe que o cartão é colado com 'fuba' (farinha) de mandioca. A nossa fábrica de cartões importa 'fuba' de mandioca porque não há nenhum operador que lhe dê as quantidades que precisa”, revelou.
Foram prelectores no primeiro painel, José Gama Sala, administrador Executivo AIPE, Wanderley Ribeiro, presidente da AAPA (Associação Agropecuária de Angola), Anderson Jerónimo, director do GEPE do Ministério da Agricultura e Florestas, Eduardo Machado, Coordenador da Reserva Estratégica Alimentar e César Augusto Lopes da Cruz, director Nacional da Indústria, sob moderação do jornalista Mariano Quissola.
Integraram o segundo painel, que foi moderado pelo jornalista Carlos Rosado de Carvalho, Carolina Remísio directora Executiva de Clientes Comerciais e Negócios do Standard Bank; Philippe Alliali, PCA Sanlam Angola, Diogo Caldas, CEO Refriang; João Germano Silva, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Subsidiária Agricultiva e Hugo Teles, PCE do Banco BIC.
A conferência contou ainda com a presença de vários especialistas em matéria de agronomia, investidores, académicos e decisores políticos de vários departamentos ministeriais e decorrereu em dois formatos (presencial e híbrido). A gravação da conferência ainda está disponível nas plataformas digitais como o Facebook https://fb.me/e/2DCkBm1A3 pelo YouTube em (164) (AO VIVO) V CONFERÊNCIA E&M SOBRE AGRICULTURA - YouTube e pelo site da Revista Economia & Mercado em Conferência (economiaemercado.co.ao).