A digitalização deixou de ser uma tendência e passou a ser uma realidade incontornável. Em Angola, a nossa juventude representa a maioria da população e os desafios do desenvolvimento exigem soluções rápidas e sustentáveis – a literacia digital e a inteligência artificial (IA) devem ser encaradas como pilares estratégicos para o futuro do país.
Tive a oportunidade de abordar recentemente este tema num conhecido programa de rádio nacional e, nessa conversa informal reforcei a urgência de se colocar a literacia digital no centro do debate público e das políticas de capacitação nacional.
O que é, afinal, literacia digital?
Mais do que saber usar um computador ou navegar na internet, literacia digital é a capacidade de aceder, avaliar, criar e comunicar informação usando tecnologias digitais. Trata-se de desenvolver pensamento crítico, proteger-se contra desinformação e utilizar ferramentas digitais de forma produtiva, ética e segura.
Em Angola, onde o uso de smartphones e redes sociais cresce rapidamente, o acesso à tecnologia não será o principal obstáculo. O desafio está agora na qualidade desse mesmo uso. Receber e partilhar informação não é o mesmo que compreendê-la. E num mundo onde textos, imagens, áudios e vídeos podem ser manipulados com facilidade por meio de IA, reconhecer o que é real tornou-se uma competência essencial.
Inteligência Artificial: ameaça ou oportunidade?
A IA já está presente no nosso quotidiano — nos motores de busca, nas redes sociais, nos bancos, nos serviços de saúde, no marketing digital, nos transportes e até na agricultura. Chatbots, algoritmos de recomendação, reconhecimento de voz ou imagem, previsão de padrões de consumo e assistentes virtuais são exemplos práticos de como esta tecnologia se integrou nas nossas rotinas.
Mas a IA também levanta questões sociais, éticas e económicas relevantes. Estima-se que milhões de empregos em todo o mundo possam ser transformados ou até mesmo eliminados pela automação. Em contrapartida, prevê-se a criação de ainda mais empregos e funções ligadas ao desenvolvimento, treino e supervisão de sistemas inteligentes, à análise de dados, à cibersegurança e à inovação tecnológica.
Se Angola actuar com uma visão estratégica, poderá beneficiar deste equilíbrio. O uso de IA no sector agrícola, poderá melhorar a produtividade e permitir uma gestão mais eficiente dos nossos recursos. Na saúde, poderemos reforçar diagnósticos em regiões com escassez de médicos. No ensino, será possível personalizar o ritmo de aprendizagem, incluindo o recurso às línguas nacionais e reduzir desigualdades. Tudo isto representam oportunidades de desenvolvimento.
O papel das equipas híbridas
Um dos conceitos mais promissores da era digital é a emergência das equipas híbridas, compostas por humanos e agentes digitais. Em vez de substituir o talento humano, a IA pode funcionar como um “colega de trabalho” virtual — um co-piloto que automatiza tarefas repetitivas, disponibiliza análises e recomendações baseadas em dados e permite que as pessoas se concentrem na criatividade, na decisão e na empatia.
Este modelo já está a ser aplicado em empresas líderes à escala global e será, certamente, um caminho a seguir no nosso mercado e sectores como o petróleo e gás, banca, telecomunicações, saúde e serviços públicos poderão estar na vanguarda da adopção.
Como preparar Angola para esta transformação?
1. Educação e capacitação digital – Desde o ensino básico até à formação profissional, é fundamental integrar competências digitais e noções de IA nos respectivos currículos;
2. Inovação – Angola deve estimular o desenvolvimento de soluções de IA adaptadas à sua realidade, promovendo start-ups e hubs de tecnologia a nível local;
3. Regulação e ética – É necessário garantir que o uso da IA seja transparente, responsável e centrada no ser humano, sendo fundamental trilhar os passos de forma estruturada;
4. Inclusão digital – O acesso à tecnologia e à informação deverá chegar a todos, evitando que a revolução digital aumente ainda mais as desigualdades sociais e regionais.
Concluindo, a literacia digital e a inteligência artificial não são temas do futuro — são desafios e oportunidades do presente. Angola tem a oportunidade de posicionar-se como um país que recorre a tecnologia para resolver os seus próprios problemas, promovendo inclusão, desenvolvimento económico e transformação social.
Cabe-nos, enquanto profissionais, decisores, educadores e cidadãos, garantir que esta transformação seja feita de forma justa, consciente e sustentável – a tecnologia só transforma vidas quando é bem compreendida e bem utilizada e essa transformação começa com possibilidades de acesso e de entendimento básico da mesma por parte dos cidadãos.
Resumo
A literacia digital e a inteligência artificial são essenciais para o desenvolvimento sustentável. Num contexto cada vez mais digital, compreender e usar a tecnologia com pensamento crítico é uma competência de cidadania. A IA já está presente em vários sectores e Angola poderá aproveitar essas ferramentas para promover a inclusão, a inovação e o crescimento económico — para tal será fundamental investir na educação digital, inovação local e uso ético da tecnologia.