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Namíbia recolhe angolanos das ruas e aguarda contacto de Luanda para repatriamento

Victória Maviluka
28/5/2024
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Foto:
DR

Decisão de retirada do grupo de angolanos das ruas da Namíbia foi tomada pelo Conselho de Ministros do país vizinho, e a finalidade é de o devolver à sua comunidade, em Angola.

Um grupo de cidadãos angolanos que percorria as ruas da Namíbia há mais de um ano a vender colheres de madeira foi recolhido pelas autoridades namibianas e colocado, contra a sua vontade, num centro de acolhimento, enquanto se aguarda de Luanda uma decisão para o seu repatriamento.

Segundo noticia nesta terça-feira, 28, o jornal Namibian Sun, integram o grupo na sua maioria mulheres e crianças, que se queixam das condições do Centro Nacional de Serviços Juvenis de Ondangwa, local onde estão hospedados há pouco menos de duas semanas. 

Lucia Witbooi, vice-ministra do Interior, Imigração, Segurança e Protecção, referiu, citada pelo diário namibiano, que se trata de um acordo temporário, enquanto as autoridades do seu país mantêm contactos com Luanda. 

A decisão de retirada do grupo de angolanos das ruas da Namíbia foi tomada em sede do Conselho de Ministros daquele país vizinho, e a finalidade é de o devolver à sua comunidade, em Angola.

Witbooi disse que o Governo da Namíbia tem toda a logística preparada para facilitar viagens seguras aos angolanos para o posto fronteiriço de Oshikango, entre Namíbia e Angola.

“Depois disso, o Governo de Luanda assume. Tivemos uma reunião com o Governo angolano e indicaram que estão a pôr as coisas em prática antes de nos darem um sinal sobre quando libertar as pessoas. Se Angola disser 'estamos prontos', então, nós os movemos”, disse.

Acrescentou que a Namíbia não vai permitir que o grupo volte a percorrer as suas ruas, especialmente as crianças pequenas, que deveriam estar na escola.

“Nunca mais voltaremos aqui”

Falando através de um tradutor, uma mulher angolana, que recusou ser identificada, perguntou à vice-ministra Witbooi o que aconteceria se um deles morresse no centro. 

A mulher, relata o jornal Namibian Sun, queria saber quem seria o responsável pelo sepultamento, pois eles usam trajes tradicionais, que deveriam ser manuseados de forma específica de acordo com sua cultura.

Em resposta, a vice-ministra do Interior, Imigração, Segurança e Protecção da Namíbia disse esperar que não se chegue a esse ponto, sublinhando que o acordo é temporário e que os membros do grupo serão transferidos em breve.

“Não precisamos de autocarro. Viemos para a Namíbia a pé e estamos dispostos a voltar [a pé]. Nunca mais voltaremos aqui”, cantava o grupo diante da presença de Witbooi.

Depois que a governante informou o grupo sobre a logística, conta o jornal, o caos eclodiu: os angolanos alegaram que estão detidos contra a sua vontade e querem voltar a pé para o seu país, refutando qualquer outra assistência logística da Namíbia ou de Angola.

O Namibian Sun relata que a polícia e a segurança do recinto tiveram que trancar o portão do centro para impedir que o grupo saísse do local.

Tráfico de seres humanos?

Lucia Witbooi reforçou que a Namíbia está a recorrer às relações bilaterais com Angola para um melhor desfecho do epísódio, que seria reintegrar o grupo de angolanos nas suas comunidades.

Entretanto, as autoridades daquele país não descartam a possibilidade de a presença deste grupo estar ligada a eventual caso de tráfico de seres humanos. 

“Também estamos a olhar para o aspecto do tráfico de pessoas, mas não é um exercício de dois dias. As investigações estão em andamento com o departamento responsável, e, se descobrirem que o tráfico de pessoas faz parte disso, o assunto será tratado”, garantiu Witbooi.

O jornal descreve que, por enquanto, o Governo namibiano destinou duas salas ao grupo: uma para homens e outra para mulheres e crianças, incluindo banheiros e cozinha, com o seu respectivo pessoal.