Ou seja, tentaram fazer-nos crer que era normal sobre facturar as obras públicas, priorizar familiares e amigos nos concursos públicos, desviar fundos sugando os cofres públicos até ao último centavo e, quando tudo viesse à tona, ser premiado com uma exoneração e consequente nomeação para um novo cargo, às vezes muito mais relevante.
Se tentarmos compreender, com profundidade, o conceito decorrupção, ficamos com uma ideia clara de quanto esse mal se entranhou nasociedade angolana, na medida em que ela pode manifestar-se de forma ténue edisfarçada, ou de forma mais evidente e inescrupulosa. Para Alberto RamosFontes, autor de “Ensaio Sobre a Corrupção”, esse mal “deixou assim de ser, emmuitos casos, uma actividade meramente individual e insignificante e passou aassumir formas organizadas e ins- titucionais que lhe permitiram aumentar aeficácia e, ao mesmo tempo, adquirir os meios para edificar imagens oudisfarces de aparente respeitabilidade social. A desvalorização da ética noscomportamentos e nas relações sociais e a sofisticação dos mecanismos e asformas de actuar institucionais fazem com que, frequente- mente, seja muitodifícil ao cidadão comum detectar e avaliar explicitamente o carácteressencialmente corrupto de muitos comportamentos e actividades”.
Esta tese de Alberto Ramalho Fontes serve perfeitamente para elucidar o que se viveu no país ao longo dos últimos anos, em que, como criticam os nossos entrevistados, a corrupção foi institucionalizada ao mais alto nível. Todos acompanhámos o famoso processo de acumulação primitiva decapitais que permitiu, segundo denúncias e fortes evidências, a saída indiscriminada de dinheiro público para o exterior em nome de particulares e nem mesmo a Lei de Repatriamento de Capitais, recentemente aprovada,permitirá que os fundos transferidos ilicitamente voltem ao domínio do Estado,o que vem frustrar as expectativas dos angolanos e prolongar, de alguma forma,o ciclo vicioso que se quer combater.
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