Os moradores do edifício n.º 236, na Avenida Comandante Valódia, descrevem a decisão de evacuação, tomada pela Administração Municipal de Luanda, nesta sexta-feira, 22 (dia em que foi feita a entrevista), como “precipitada”. Alegam ter havido apenas um desequilíbrio num compartimento, onde um dos ocupantes terá feito intervenções. Que estudo foi este que levou à evacuação imediata no edifício ‘São José’?
Após algumas denúncias relacionadas com o estado crítico de degradação deste edifício, estamos a falar do edifício denominado ‘São José’, n.º 236, cujos elementos estruturais - estamos a falar de vigas e pilares - encontram-se em estado de degradação acentuada, apresentando já algumas fissuras graves, e, também, nos elementos estruturais, como os aços de armadura, que acabaram por flectir. Dito isso, urge a necessidade de fazermos uma evacuação de imediato no sentido de preservar o bem vida.
A decisão de evacuação foi tomada a partir destes dados? A partir dos dados das denúncias?
Bem, após as denúncias, viemos fazer uma inspecção visual, e convidámos, então, entidades competentes, como o Laboratório de Engenharia de Angola, técnicos seniores do GPL e Administração Municipal de Luanda, que acompanharam esta inspecção, e, após a nota informativa do Laboratório de Engenharia, observámos, então, todos estes factores e esclareceram-nos que o edifício apresenta alguns riscos. E para terminar esta inspecção com mais profundeza, precisamos de desocupar o edifício, de forma a que possamos fazer um trabalho mais apurado e termos, então, a certeza de que o edifício poderá ainda ser recuperado, com o reforço dos elementos estruturais ou não.
Parece que estamos diante de três prédios fundidos numa só estrutura. São os três compartimentos que estão em causa?
Os edifícios estão posicionados em banda contínua, é um adossado ao outro. Neste sentido, nós estamos a falar do edifício do meio, denominado ‘São José’, n.º 236.
Os outros não estão em risco, portanto.
Bem, dos três edifícios, o que apresenta sinais graves de degradação mais acentuada é o 236.
Este edifício, agora evacuado, está no mesmo corredor do prédio que, no ano passado, desabou, também aqui na Avenida Comandante Valódia. Existe alguma relação, do ponto de vista técnico, entre as duas ocorrências?
Pensamos que a degradação consiste na má utilização dos edifícios. Muitos destes edifícios foram alterados a sua funcionalidade, incidindo determinadas acções e alterações na sua composição estrutural, o que, de certa forma, influencia no comportamento dos elementos estruturais em receber e suportar as cargas necessárias.
Qual é a previsão do termo do estudo mais apurado que se vai fazer para se determinar a utilidade do edifício ‘São José’?
Prevemos 30 dias para inspecção apurada, pode ser menos ou mais.
Os moradores queixam-se de falta de solução, nem que paliativa, para o seu provisório alojamento. Estamos a ver aqui famílias ao relento, sem saberem onde vão passar a noite, tampouco os próximos dias.
Diante desta situação, é um facto que nos surpreendeu a todos, e, nesta altura, o que queremos preservar é o bem vida. Nós estamos a falar aqui neste momento e não sabemos se o edifício pode desabar agora ou mais tarde. Então, o que nos interessa, nesta altura, é mesmo a prevenção, no sentido de que o mal maior não possa acontecer.
Qual o número de famílias em causa?
Estamos a falar de aproximadamente 50 famílias. Contudo, ainda não terminamos o nosso cadastramento, mas estamos a trabalhar no sentido de ter o número exacto e, com mais precisão, podermos informar.
Quer deixar alguma palavra aos moradores e aos cidadãos preocupados com a situação?
Dizer que nós, enquanto Administração, enquanto Estado, apelamos ao bom senso e, acima de tudo, à compreensão. Somos pessoas de bem, queremos o bem dos nossos citadinos e não vamos permitir que o bem maior se perca. Estamos a falar de vidas humanas. Tudo quanto está a ser feito agora é no sentido de preservar o bem vida. Para os nossos edifícios, que são ocupados pelos nossos citadinos, é o nosso património, devemos ter o maior cuidado, não devemos alterar as estruturas internas ou externas do edifício, porque, de facto, isso pode acarretar consequências futuras. Hoje, estamos a viver um momento tenso, um momento como este que deveríamos, com a colaboração de todos, evitar.