“E agora?”. Essa é, sem sombras de dúvidas, uma pergunta que nos faremos a nós mesmos nos próximos tempos, diante da actual situação de incerteza que vivemos devido à Covid-19, que nos obriga, em muitos aspectos, a admitir ou a criar um novo “normal” nas vossas vidas, pois se trata, também, de tempos de aprendizagem. Países do chamado “Primeiro Mundo”, que sempre foram uma referência em termos da sua capacidade de resposta às crises, revelaram-se “despreparados” ou, simplesmente, foram apanhados de surpresa. Por cá, já vamos na segunda prorrogação do Estado de Emergência, ou seja, entrámos na terceira quinzena de isolamento social obrigatório, mas com algumas restrições aliviadas. Ainda assim, mantém-se a incerteza, não só pelo sentimento de insegurança que nos invade quando pomos os pés fora de casa e contactamos com o mundo exterior, mas também porque, até certo ponto, algumas das medidas até aqui tomadas não nos permitem, para já, ver uma luz no fim do túnel.
Com as empresas a alegar, para breve, a declaração de incapacidade financeira para continuar a pagar salários enquanto as actividades laborais ou produtivas estiverem paradas ou a funcionar a meio-gás, receia-se que a já elevada taxa de desemprego no país, estimada em 31,8% no quarto trimestre de 2019, ascenda ainda mais.
Pouco se sabe sobre o que o futuro nos reserva, mas, passado um mês, fica mais claro de que o fundo do poço ainda está por vir, sendo que alguns estudos preliminares já permitem estimar os danos dessa “crise dupla” — primeiro a crise económica e financeira que se arrasta há seis anos e depois a Covid-19 —, cujo impacto socioeconómico obrigou, entre outras medidas, à revisão em curso do OGE 2020, pois a principal fonte de receitas do país, o petróleo, vale cada vez menos no mercado internacional e, em Abril, atingiu mínimos históricos.
Com as empresas a alegar, para breve, a declaração de incapacidade financeira para continuar a pagar salários enquanto as actividades laborais ou produtivas estiverem paradas ou a funcionar a meio-gás, receia-se que a já elevada taxa de desemprego no país, estimada em 31,8% no quarto trimestre de 2019, ascenda ainda mais. Só no sector dos transportes, segundo cálculos do ministério dae tutela, estima-se que cerca de 98.000 pessoas deverão perder os respectivos postos de trabalho, devido à Covid-19, cujos sintomas no mercado de trabalho já se alastraram ao sector petrolífero, tendo causado até ao momento, como verá mais à frente, a suspensão dos serviços em cinco das oito sondas em funcionamento no país.
Para o Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola (UCAN), a actual situação do país pode ser comprada à uma equipa de futebol - no caso os Palancas Negras - que é apurada para a Copa do Mundo, mas com menos um atleta, nomeadamente o guarda-redes. Na sua análise intitulada “Covid-19: Impactos Económicos e Sociais em Angola. Contribuição para Debate”, o CEIC prevê uma nova recessão para 2020, “muito mais profunda do que a dos anos anteriores, devido à paralisação da maior parte da actividade económica e às dificuldades no sector petrolífero, quer ao nível de preço, quer das quantidades”.
Ou seja, numa linguagem mais popular e nada optimista, “fomos expostos à bicharada” sem que, quando havia oportunidade e dinheiro, tivéssemos sido devidamente imunizados. Mas, sendo também tempos de (re) aprendizagem, que desta vez apreendamos as lições que ignorámos no passado.
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