A linha do Caminho-de-Ferro de Benguela atravessa a província no seu percurso entre o porto do Lobito, na costa, e a cidade fronteiriça do Luau, já no vizinho Moxico, antes de entrar na República Democrática do Congo, rumo ao interior profundo de África. A viagem de comboio, sendo uma alternativa original para conhecer a província, já que atravessa vários municípios e passa por algumas das principais atracções turísticas da região,tem a desvantagem de não permitir uma visita mais demorada a alguns desses locais. E embora as estradas da região não estejam nas melhores condições ainda são a melhor forma de descobrir segredos bem guardados.
Entramos na província pela Estrada Nacional 250, quase paralela ao traçado dos carris do CFB, vindos do Huambo, e atravessamos a localidade de Chinguar, com as suas avenidas largas ladeadas por árvores altas e frondosas e por velho casario. Paramos para, ali perto, visitarmos o Santuário de Nossa Senhora de Fátima do Monte Tchimbango, onde todos os anos se realiza uma peregrinação à pequena capela localizada no alto de uma colina de onde se avista até muitos quilómetros de distância.
Prosseguimos com o rumo apontado ao norte, em direcção ao Andulo, com passagem pelo Kuíto, onde voltaremos mais tarde para a visita mais demorada que a capital da província merece. Naqueles poucos mais de 100quilómetros, atravessamos uma paisagem pintada de vegetação verde, pontilhada aqui e ali por pequenos povoados e cruzada por cursos de água tal como, de resto, acontece ao longo de toda a viagem. Reza a história que o Andulo foi erigido na região onde em tempos reinaram soberanos ovibundos, depois de por ali ter andado Ngola Kiluanji, o rei da província de Malanje que fundou o estado de Ndulo. É nestas terras que vamos descobrir alguns dos tesouros naturais do Bié, como várias quedas de água, praias fluviais, como a Praia Azul, ou o Complexo das Águas Quentes de Chilesso, onde ainda encontramos as antigas infra-estruturas construídas no local de onde a fonte brota e onde podemos molhar os pés para sentir a temperatura da água.
Do Andulo a N’Harea são cerca de 50 quilómetros sobre estradas de terra vermelha entre colinas, cor que se estende também pelas ruas da vila de traçado colonial e com edifícios já recuperados, como a Igreja junto ao jardim central. Bem perto, procuramos pelos caminhos até aos rápidos do Kwanza e do rio Kunhinga, cenários onde as águas aceleram o seu percurso sobre as rochas e entre muito verde, paisagens inesquecíveis.
N’Harea está muito próxima da Reserva Natural Integral do Luando, que partilha com a vizinha província de Malanje e que o “Relatório do 1º Semestre de 2019 - Palanca Negra Gigante e Operação Aérea” revelou ter voltado a receber a visita de leões. Ainda que os grandes felinos andem escondidos, assim como as tímidas Palancas Negras que garantem a fama à reserva, esta é um paraíso para os amantes de aves e conta com um significativo número de antílopes que se deixam ver e fotografar.
Regressamos ao Kuíto para descobrir uma cidade que conseguiu superar as tremendas feridas impostas por uma guerra que travou muitas batalhas nas suas ruas. As marcas de balas ainda estão bem visíveis em muitos edifícios, testemunhando a dimensão dos confrontos devastadores. Mas nos últimos anos muitos edifícios foram reabilitados, sobretudo os administrativos, como os que rodeiam o Largo do Governo, com destaque para a sede do Governo Provincial, ou a Sé Catedral, mesmo ao lado, devolvendo ao Kuíto a graça da cidade de interior. Pela sua altura e pelo colorido da pintura, o “prédio da Gabiconta” é outro dos motivos de orgulho dos habitantes da cidade, já que voltou a embelezá-la com as suas cores alegres depois de ter estado em risco de ruína devido a bombardeamentos.
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